sábado, 31 de março de 2012

Não adianta reclamar

"Sem título", lápis de cor sobre sketchbook, 2011.

Mais um desenho daqueles que surgem no meio da rua.
Comecei na parada de ônibus, continuei no balanço do buzão, parei algumas horas.
Voltei ao ponto, tirei o lápis de cor solitário do bolso, rabisquei mais um pouco, desenhei novamente no baú, cheguei em casa e deixei o trabalho parado por uns dias.
Retomei agora a pouco e, depois de alguns minutos, finalizei-o.

O tempo de espera no ponto de ônibus aqui em Brasília, assim como o tempo perdido no coletivo, pode ser muito grande. Então é melhor reclamar menos e ocupar mais a mente. Uns usam as palavras cruzadas ou o sudoku, outros preferem ler, algo que fiz por muito tempo. Entretanto, atualmente os desenhos rápidos e sem traços precisos têm sido uma boa forma de viajar (no meu mundo, claro). Tanto que, por incrível que pareça, algumas vezes eu já cheguei a pensar: "putz, já tô chegando? Não acredito que vou ter que parar o desenho logo agora!".

Enfim, como diz o ditado: você é o que você faz, e não o que você diz. E o que estou fazendo agora está no papel... e aqui no blog também.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Fuleiro, mas ta valendo


Desenho vagabundo, feito em um papel vagabundo e com um pincel e um nanquim vagabundo para acompanhar.
Fiz apenas para não perder o que sobrou da tinta no copinho descartável de café (de muita qualidade, diga-se de passagem) depois de uma atividade com as crianças de uma das escolas em que trabalho.
Como o nanquim é muito tóxico, neste caso é melhor que não seja de muita qualidade mesmo, pois é mais seguro para elas.

O motivo não é novo (para manter a tradição). Mas para um desenho de 10 minutos feito entre uma aula e outra sem muitas pretensões, até que não tá nada mau.

É como eu sempre digo: enquanto eu descanso, carrego pedra. Se quisesse moleza, sentaria no pudim...

domingo, 25 de março de 2012

Pensamento da semana

“Nós vemos conforme a nossa ordem social nos deixa compreender. Ou seja, as nossas percepções refletem ou simbolizam o comportamento de uma determinada cultura. É através da arte que estas percepções se expressam; a arte dá a conhecer a forma visual da nossa experiência social. Portanto a arte é uma expressão dos valores apercebidos de um processo sociocultural de uma determinada época da história.”

Burne Hogarth, em Luz e sombra sem dificuldade.

sábado, 24 de março de 2012

E o salário, ó!

Meus heróis não morreram de overdose. Pelo menos não todos eles.

"E o salário, ó!", aquarela e nanquim
sobre moleskine, 2011.

Assistindo a um jornal ontem à noite, eu me surpreendi com a notícia da morte de Chico Anysio. Para mim, independente do que a mídia sensacionalista – que na maioria das vezes só está interessada em audiência – fala, o fato repercutiu na minha cabeça de uma maneira saudosista.

Algumas coisas do dia a dia me lembram muito de uma época distante, um passado que pouco a pouco se torna difuso e esquecido em minha vida. Eu, infelizmente, tenho poucas lembranças de meu pai, já que o nosso contato foi cortado logo cedo. Mas algumas situações, algumas músicas, alguns programas de televisão e/ou alguns artistas trazem sempre uma ou outra recordação feliz de minha infância ao seu lado. Mas como o tempo não anda só para mim, “a indesejada das gentes” mais cedo ou mais tarde bate a nossa porta. E dessa vez foi na do velho Chico. Fazer o quê, né?

Hoje decidi fazer uma caricatura para homenageá-lo – não é o meu forte, mas eu tentei assim mesmo. Ou poderia ser para homenagear outra época, outras pessoas, outros mundos... Enfim, a gente cresce, as coisas mudam. A única que permanece a mesma é aquela tão pronunciada pelo professor Raimundo...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Voltando a descorticar

A semana começou assim: trampo (muito trampo!), cansaço, sono e, para acompanhar, uma preguicinha justificável. Mas como agora eu to voltando à ativa, resolvi fazer diferente.

Aproveitando aquele momento raro de bus vazio, indo sentado confortavelmente (essa parte é mentira, só para florear a história mesmo) para o segundo emprego do dia, comecei a desenhar sem muitas pretensões. Mas acabei gostando e decidi continuar no horário de almoço do mesmo dia – terça feira – e do dia seguinte. O resultado foi este mostrado logo abaixo.


Não preciso falar que este foi um estudo “de verdade” para a série Natureza Íntima, como há algum tempo eu não fazia. E apesar de eu não ter usado referência fotográfica, gostei bastante do trabalho finalizado.

Os detalhes são os mesmos que sempre procuro representar: a seriedade de um olhar distante que acompanha uma inexpressão facial como um todo, de modo que o olhar do observador foque na descorticação, que pode ser sutil ou bem exagerada. Neste caso, ela figura no canto superior esquerdo da cabeça e desce pela lateral, sem simetria ou proporção, o que tira um pouco do impacto visual à primeira vista. Entretanto, um detalhe que ressaltei para reforçar o lado grotesco foi a falta da orelha esquerda devido ao corte escolhido, algo que deixou o personagem um pouco mais excêntrico.

Enfim, eu não pude postar o processo do desenho porque eu não o fiz em casa, mas já comecei um outro (também dentro do ônibus) que devo detalhar um pouco mais cada uma das etapas. Mas, seja como for, este já entrou para a lista de espera dos trabalhos que pretendo pintar ainda este ano, e já estou ansioso para isso.

sábado, 10 de março de 2012

Estudo em vermelho

"Sem título", sanguínea sobre sketchbook, 2011.

Desenho rápido feito em sanguínea sobre sketchbook, ainda experimentando novas possibilidades em vermelho.

A ausência do branco no fundo e o tom enferrujado da sanguínea acentuaram o tom dramático que tentei representar, principalmente, pelo olhar vazio e distante.

Este relacionamento que está surgindo com meu novo sketchbook - que é de espiral, algo que não me agrada muito -  ainda está tímido, mas tem tudo para crescer com o passar do tempo. Assim espero...

terça-feira, 6 de março de 2012

O meu olhar


Ilustração rápida feita para um projeto que iniciará nesta semana em uma das escolas em que trabalho.

O desenho foi a parte fácil. O difícil foi reproduzi-lo sozinho em uma escala bem maior que o original no moleskine, mais ou menos 1,8 x 2,5 metros, eu acho.

A ideia era fazer um desenho que simbolizasse a construção do futuro aliando a tecnologia à natureza a partir do estudo e da leitura. Mas como o texto ainda não tinha sido escolhido, eu coloquei por minha conta (apenas no meu desenho e aqui no blog) um poema de minha escolha, de Alberto Caeiro, um heterônimo de Fernando Pessoa.


No sketchbook eu não consegui escrever o poema inteiro por conta do tamanho da página, mas abaixo ele pode ser lido na íntegra (muito bom, diga-se de passagem).


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, "II - O Meu Olhar".