O sonho, independente da época observada, sempre foi palco de grandes mistérios para o ser humano. Filósofos, psicólogos ou psiquiatras desenvolveram ao logo da história teorias das mais diversas para explicar ou entender o que se passa durante o período em que fechamos os olhos e ficamos reclusos no universo do inconsciente.
Para mim, dormir sempre foi um grande problema. Desde criança eu tive problemas para lembrar o que acontecia durante as noites, sendo que em algumas delas eu até achava que havia sonhado com algo, mas nunca conseguia saber exatamente com o quê. Isso me levou – já há muito tempo – a pesquisar sobre o assunto, descobrindo que existem duas teorias a essa perda das lembranças oníricas. Uma delas diz que nós sonhamos todas as noites, mas algumas pessoas não conseguem registrar isto de maneira consciente e, quando acordam, esquecem com o que sonharam. A outra, diz que para sonharmos, precisamos entrar no quinto estágio do sono, o chamado sonho REM (Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido dos Olhos, em português), que só é alcançado quando o corpo está completamente relaxado. Logo, se por qualquer motivo físico, como o cansaço, ou psicológico, como o estresse, o indivíduo não chegar ao sono REM, ele não seria capaz de sonhar e, por isso, não teria lembrança nenhuma ao acordar.
É bem possível que estas teorias até se complementem, o que não posso afirmar, já que não sou nenhum conhecedor profundo do assunto. Seja como for, talvez por isso eu tenha me tornado, desde criança, tão sonhador – mas dos que sonham acordado, e não dormindo.
Ultimamente, entretanto, eu acordo sabendo que estava em uma viagem profunda e inquietante, daquelas que se fossem contadas em um filme, fariam o personagem acordar suado e ofegante. Eu até tento, mas não consigo me lembrar do que sonhei. Assim, refletindo sobre as várias noites conturbadas, de sonhos estranhos que desaparecem da memória ao despertar, comecei uma série de trabalhos sobre o tema, ainda muito prematuros, que, por hora, chamei de “Devaneios Submersos”.
Partindo de algumas imagens mentais e fotográficas, a ideia era relacionar a profundidade inconsciente com algo que envolvesse também grandes mistérios a serem descobertos. Para tanto, pensei no mar e nos seres que nele habitam para traçar essa relação.
A profundidade submarina apresenta tantos mistérios quanto à interioridade da mente. Quanto mais submerso, menos explorados são os mares, pois a pressão da água é tão forte impede que o homem obtenha qualquer registro mais preciso do que lá existe.
Assim, pautado em tais enigmas, resolvi trabalhar com os dois temas de modo conjunto, e concluí um primeiro estudo recentemente, e as imagens acima mostram partes deste processo. A primeira, o desenho somente em grafite e a segunda, já com o nanquim reforçando algumas linhas. Abaixo, o resultado final deste primeiro teste em aquarela e nanquim, que ainda tem muito a ser desenvolvido.
Não sei ainda se a ideia será trabalhada em aquarela ou alguma outra tinta, em grafite, nanquim, pastel, ou em todas elas. Vou apenas experimentar e permitir que o inconsciente se manifeste e se torne consciente através de linhas, forma, manchas e cores da maneira que ele achar melhor.
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