domingo, 22 de janeiro de 2012

Pensamento da semana

“Todas as linhas de estudo do fenômeno artístico – sejam por meio da sociologia da arte, da psicologia, da história da arte e até mesmo da biografia do artista – são conhecimentos sempre parciais. A leitura de uma obra de arte se dá por camadas, níveis, filtros esclarecedores; são aproximações que nos revelam muitas faces da arte.”

Rui de Oliveira, em Pelos Jardins Boboli – reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Em processo: descorticação orbital (parte 2)

Ainda no processo de conclusão da terceira gravura, abaixo pode-se ver a matriz já entintada, o que permitiu visualizar de maneira mais clara como ficaria a cópia depois de impressa.


Como já disse anteriormente, o fato de eu não ter desenhado em toda a matriz dificulta o entendimento do desenho, mas, mesmo assim, o resultado ficou de acordo com o esperado, e pode visto na gravura abaixo.


A ideia era obter uma imagem com bastante contraste, de modo que houvesse poucas hachuras e sombreados entre o claro e o escuro. Quanto a descorticação, a escolha pela região ocular no local de maior sombra deixou, na imagem, um ar mais sombrio, e o sorriso malicioso, um certo sarcasmo.

Eu aproveitei ainda, assim como nas outras gravuras já mostradas, o fundo chapado da madeira para compor o trabalho. Por isso, como eu havia planejado, não lixei muito bem a matriz para que os veios da madeira ficassem bem evidentes.

Na próxima e última xilogravura que mostrarei, feita no lado oposto desta, o fundo foi completamente retirado e o trabalho, mesmo seguindo a mesma série de imagens, ficou bem diferente. Mas comentarei sobre ela sem pressa um pouco mais para frente...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Devaneios Submersos

O sonho, independente da época observada, sempre foi palco de grandes mistérios para o ser humano. Filósofos, psicólogos ou psiquiatras desenvolveram ao logo da história teorias das mais diversas para explicar ou entender o que se passa durante o período em que fechamos os olhos e ficamos reclusos no universo do inconsciente.

Para mim, dormir sempre foi um grande problema. Desde criança eu tive problemas para lembrar o que acontecia durante as noites, sendo que em algumas delas eu até achava que havia sonhado com algo, mas nunca conseguia saber exatamente com o quê. Isso me levou – já há muito tempo – a pesquisar sobre o assunto, descobrindo que existem duas teorias a essa perda das lembranças oníricas. Uma delas diz que nós sonhamos todas as noites, mas algumas pessoas não conseguem registrar isto de maneira consciente e, quando acordam, esquecem com o que sonharam. A outra, diz que para sonharmos, precisamos entrar no quinto estágio do sono, o chamado sonho REM (Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido dos Olhos, em português), que só é alcançado quando o corpo está completamente relaxado. Logo, se por qualquer motivo físico, como o cansaço, ou psicológico, como o estresse, o indivíduo não chegar ao sono REM, ele não seria capaz de sonhar e, por isso, não teria lembrança nenhuma ao acordar.

É bem possível que estas teorias até se complementem, o que não posso afirmar, já que não sou nenhum conhecedor profundo do assunto. Seja como for, talvez por isso eu tenha me tornado, desde criança, tão sonhador – mas dos que sonham acordado, e não dormindo.

Ultimamente, entretanto, eu acordo sabendo que estava em uma viagem profunda e inquietante, daquelas que se fossem contadas em um filme, fariam o personagem acordar suado e ofegante. Eu até tento, mas não consigo me lembrar do que sonhei. Assim, refletindo sobre as várias noites conturbadas, de sonhos estranhos que desaparecem da memória ao despertar, comecei uma série de trabalhos sobre o tema, ainda muito prematuros, que, por hora, chamei de “Devaneios Submersos”.

Partindo de algumas imagens mentais e fotográficas, a ideia era relacionar a profundidade inconsciente com algo que envolvesse também grandes mistérios a serem descobertos. Para tanto, pensei no mar e nos seres que nele habitam para traçar essa relação.


A profundidade submarina apresenta tantos mistérios quanto à interioridade da mente. Quanto mais submerso, menos explorados são os mares, pois a pressão da água é tão forte impede que o homem obtenha qualquer registro mais preciso do que lá existe.


Assim, pautado em tais enigmas, resolvi trabalhar com os dois temas de modo conjunto, e concluí um primeiro estudo recentemente, e as imagens acima mostram partes deste processo. A primeira, o desenho somente em grafite e a segunda, já com o nanquim reforçando algumas linhas. Abaixo, o resultado final deste primeiro teste em aquarela e nanquim, que ainda tem muito a ser desenvolvido.


Não sei ainda se a ideia será trabalhada em aquarela ou alguma outra tinta, em grafite, nanquim, pastel, ou em todas elas. Vou apenas experimentar e permitir que o inconsciente se manifeste e se torne consciente através de linhas, forma, manchas e cores da maneira que ele achar melhor.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Retrospectiva 2011 (parte 3)

Outros dois sketches perdidos – ou achados – do caderninho de bolso.

Para variar, estes foram feitos fora de casa, já que eu não costumo desenhar no sketchbook pequenino quando tenho a opção de usar um caderno maior, com papel mais pesado e com mais materiais disponíveis.

Apesar de não estarem em páginas consecutivas, resolvi postar os dois desenhos juntos apenas porque são de partes do corpo, mesmo não tendo uma relação mais íntima entre eles.

O primeiro foi feito durante uma aula do semestre passado a partir de um flyer de uma festa que peguei em um mural da própria universidade. Como o achei muito interessante, acabei reproduzindo de maneira simplificada a mão enrolada com fica adesiva e colada na parede branca ao fundo.


Já o segundo foi um estudo rápido de expressão do olhar feito no metrô. Nesta página eu comecei as anotações de uma aula de anatomia que acabou não rolando e, aproveitando o espaço em branco logo abaixo, desenhei este olho solitário e triste a observar sabe-se lá o quê. Eu até pensei em apagar as poucas palavras acima, mas para quê? Achei desnecessário acabar com a confusão e tudo ficou como está.


Mais uma vez a falta de maiores informações me impediram de lembrar exatamente para onde eu estava indo. Mas, seja como for, o importante é que eu fui e aproveitei bem o meu tempo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Puro sangue

“Há males que vêm para o bem”, já dizia o ditado. No meu caso, não sei se veio exatamente para o bem, mas sei que foi, no mínimo, divertido.

Enquanto assistia a uma aula de Psicologia da Educação no semestre passado, eu tentei aproximar a mesa que faz parte da cadeira universitária do encosto (que, teoricamente, seria móvel) para ficar mais confortável. O problema é que a mesa estava emperrada, e quando ela resolveu se mexer foi só pra arrancar a lateral do meu dedo...

Claro que não foi nada demais, mas como minha mão não parava de sangrar, comecei a viajar e a usar o caderninho de bolso para registrar de uma forma diferente a minha interioridade.

"Sem título", sangue acidental sobre sketchbook.

Trocadilhos a parte, enquanto fazia este “desenho” com manchas, lembrei-me do genial Yves Klein, um artista francês que é considerado um dos precursores da arte contemporânea. Dentre os seus trabalhos, os da série Anthropométrie estão entre os que eu mais gosto. São pinturas performáticas em que o artista entintava o corpo de mulheres nuas (ou pedia para que elas se pintassem) e depois fazia com que elas encostassem em telas brancas de acordo com a sua orientação. O resultado é magnífico, como mostrado abaixo.

Yves Klein, "Anthropométrie sans titre", 1960 (detalhe)

É claro que a ideia era muito mais complexa do que parece, e isto pode ser notado a partir do vídeo abaixo que mostra mais ou menos como ele trabalhava.


Na falta de mulheres nuas no meio da aula para a realização desta atividade lúdica, tive que me virar sozinho. Mas que fique aqui registrado o meu descontentamento com tamanho absurdo e revolta contra este ensino tradicionalista e ultrapassado...

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pensamento da semana

"Não é um milagre a integração dos olhos no rosto do homem? Existe algo que possa ser um equilíbrio entre dimensão física e espiritual; volumes e superfícies, cores e formas encontram-se compensados pelos olhos, não pelo que os olhos são, mas pelo que os olhos fazem."

Eduardo Chillida, escultor.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Em processo: descorticação orbital (parte 1)

Nesta terceira xilogravura da série que produzi há pouco tempo, a temática continuou a mesma, o que não é novidade, mas a matriz foi diferente.

Nas últimas duas xilos, eu trabalhei com cedrana e utilizei os dois lados da mesma madeira, como já disse. Percebi, então, que ela é bastante rígida, com muitos veios escuros que mudam a rota da goiva durante a gravação e, por isso, certos detalhes muito pequenos necessitam de uma precisão absurda para serem alcançados. E mesmo assim, de vez em quando, a ferramenta segue a fibra da madeira e o detalhe que se queria, já era...

Desta vez, a matriz foi de cedro, uma madeira mais nobre, mais “macia” (este não é bem o termo, mas na falta de um melhor, vai este mesmo), com fibras mais suaves e com menos contraste entre elas e a cor da madeira, o que possibilita um desenho mais limpo, apesar de sua cor mais escura se comparada a cedrana. Abaixo, uma foto do prancha de cedro ainda antes de ser lixada.


Neste trabalho, eu não fiz nenhum estudo prévio para a imagem a ser gravada. Contrariando tudo o que aprendi, peguei o lápis e, partindo de uma foto qualquer encontrada no meu banco de dados – ou de imagens –, esbocei diretamente na matriz. O problema de se fazer isso é que se o trabalho for muito delicado, o próprio traço do lápis pode danificar a superfície deixando algum baixo-relevo indesejado, pois para ser riscado o grafite necessita ser pressionado sobre a superfície. Por isso, desenhei com um lápis bem macio (8B, se não me falha a memória) e, posteriormente, cobri o desenho com uma caneta de ponta porosa, como mostra a imagem abaixo.


A caneta de ponta porosa é um tipo de caneta semelhante à hidrocor (ou canetinha, como é mais conhecida), em que não é necessário fazer pressão no ato do desenho. Neste caso, a caneta que eu usei foi a base de álcool, ao contrário da hidrocor que, como o nome já sugere, é a base d’água. A vantagem dela é evitar que o desenho borre ou saia na mão durante o processo de gravação, o que não é nada divertido.

Eu cobri as linhas principais com uma caneta escura e com uma caneta vermelha delimitei o espaço aonde queria o desenho chapado. O certo seria cobrir com a caneta preta toda a área que não seria gravada, como se já estivesse passando a tinta para a impressão. Como mostrado acima, é totalmente desaconselhável, pois torna-se mais complicado o entendimento do desenho, além de aumentar a chance de erros no momento da subtração com as goivas. Como a madeira não permite erros, cortar no lugar errado é sinônimo de mais trabalho para modificar toda a gravação no meio do processo.

Na próxima postagem eu falarei um pouco mais da escolha do desenho, mostrarei a matriz entintada e a finalização do processo com a cópia impressa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Tons de pele


Estudo simples de tons de pele em aquarela sobre moleskine.

Os rostos não foram desenhados buscando a proporção real. Pelo contrário, o esboço rápido os deixou mais caricatos, com os olhos ou os lábios, por exemplo, um pouco exagerados, mesmo não sendo de maneira absurda.

O objetivo era realmente entender a relação entre as cores, como elas se misturam, como se complementam, como se sobrepõem em camadas, etc., além da diferença ente os tons de pele clara e escura. Este deve ser um exercício constante para o artista para que a execução de cada trabalho seja cada vez mais rápida.

Quando eu fiz a disciplina de Ilustração Científica, o professor sempre dizia que ao olhar para uma folha de uma árvore, automaticamente o ilustrador deveria saber quais tons (e quantidade) de amarelo e azul deveriam ser misturados para se alcançar a cor observada. Aqui a ideia é a mesma, mas com o foco na face humana, que é mais a minha praia. Como eu sei que eu estou longe disso, o jeito é continuar praticando. Ainda bem que, para mim, isto não é nenhum sacrifício...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Retrospectiva 2011 (parte 2)

Mais duas páginas do sketchbook de bolso que estavam esquecidas pelo meio do caderninho que está quase no fim.

É engraçado porque a falta de informações não permite lembrar exatamente o contexto em que cada desenho foi feito. Claro que o fato de a área desenhável ser pequena influencia na decisão de rabiscar, escrever ou fazer as duas coisas juntas.

Páginas abertas do sketchbook.

Na página da esquerda, eu reconheço o lugar, que é a vista de uma das paradas em frente à reitoria da UnB, e a data, dia 6 de abril de 2011.

Página esquerda do sketchbook

Mas a da direita, que é um desenho feito apenas dentro de um ônibus e sem alterações posteriores, eu já não lembro muita coisa. Recordo apenas que o fiz em outro dia, indo para algum lugar que não era minha casa, e que o “modelo” estava dormindo profundamente.

Página direita do sketchbook.

Que bom que as coisas importantes ficam guardadas na memória por um tempo mais longo – ou pelo menos deveriam ficar – ao contrário dos acontecimentos cotidianos que vão se perdendo com mais facilidade. Seja como for, tentar recordá-las é um bom exercício para a cachola. No caso do desenho dentro do ônibus, lembro que o cara ficou na mesma posição por mais ou menos uns 10 minutos, que tinha uma mulher sentada do meu lado espiando de rabo de olho, e que o ônibus era barulhento, estava sujo e balançava muito – se bem que esta última parte é desnecessária, já que qualquer pessoa que anda de ônibus em Brasília sabe perfeitamente disto, e esquecer é quase impossível...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

2,5 mg de diazepam

"Sem título", nanquim e acrílica sobre moleskine.

Este, para mim, foi um trabalho totalmente inusitado, terminando muito diferente - e muito depois - do planejado.

Não era para ocupar duas páginas, para ter cor e muito menos para apresentar qualquer elemento que fugisse de um simples autorretrato. Eu comecei desenhando e, ao passar a caneta nanquim por cima do grafite, descobri o que eu não queria ter descoberto: eu não estava ali!

Bom, eu acho que o olhar e a parte da boca e do queixo até lembram um pouco as minhas feições, mas eu achei o desenho péssimo e a minha vontade depois de vê-lo pronto foi de rasgar e começar tudo de novo. Entretanto, fazer isto com um sketchbook costurado é quase impossível por dois motivos: primeiro, porque isso altera a constituição do caderno, podendo soltar uma página já trabalhada; e depois, porque, neste caso, se trata de um Moleskine (mesmo não tendo sido feito por mim e não sendo tão pessoal, só o fato de ser um Moleskine já dispensa comentários...).

Mas além disso, há também o fato do artista ter de se acostumar com seus erros e aprender a contornar e aproveitar cada falha de uma maneira positiva. Assim sendo, este desenho ficou dias parado no caderno, e enquanto eu estava puto com ele – ou comigo mesmo –, o sketchbook ficou fechado e isolado na estante, esperando o momento em que eu decidisse o que iria fazer. Então, certo dia eu estava olhando um livro “monstro” sobre emergências médicas – que comprei em um sebo (por um valor irrisório) para recortar ou desenhar diretamente em suas páginas –, e encontrei essas imagens que achei bem interessantes.

Alguns dos recortes me atraíram primeiramente pelo apelo estético. Mas outros eu achei interessante à relação entre a imagem e a legenda. No que foi colado na parte inferior do rosto, a legenda eu coloquei na vertical e diz o seguinte:

Fig. 23.1 EEG [eletroencefalografia] apresentando descargas espiculares generalizadas, notando-se a normalização do traçado após 20 segundos de injeção de 2,5 mg de diazepam IV.

Neste momento, sim, eu achei que o trabalho fez todo sentido, porque pesquisando sobre o fármaco citado, descobri que, basicamente, ele é usado como tranquilizante. No meu caso, eu precisei de vários dias de distanciamento para poder pensar no desenho com serenidade e para olhá-lo sem nenhum pesar ou ar de reprovação. No entanto, se eu tivesse uma ampola de diazepam em casa, talvez esse tempo de espera tivesse sido bem mais curto. (Hum, vou pensar melhor na ideia...).

Brincadeiras a parte, depois de coladas as imagens a conclusão do trabalho foi quase que imediata, e o resultado, mesmo eu não tendo ficado completamente satisfeito, bem melhor do que a primeira tentativa.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Pensamento da semana

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.



É, para o primeiro “pensamento da semana” eu não escolhi algo relacionado com a arte, como de costume. Escolhi um poema (apocrifamente atribuído à Drummond) que, acredito, ainda casa bem com o momento: o início de um longo ano que vem pela frente.

Que seja, então, não apenas mais um período de revolução da terra ao redor do sol, mas também, de evolução pessoal em torno dos mais íntimos desejos de cada um.

Comecemos, seja com o pé direito ou esquerdo, comecemos. Afinal, a caminhada precisa sempre dos dois passos, e o destino só se alcança andando, acertando, errando e recomeçando...

Boa semana a todos!

sábado, 7 de janeiro de 2012

More skull

Para não perder o costume, um pouquinho mais de caveiras (eu não me canso delas!). Mas, desta vez, a representação foi feita na técnica da xilogravura, a segunda tentativa depois da que mostrei por último aqui no blog.

Nesta xilo, porém, eu não registrei o processo completo, pois por conta do prazo de entrega tive de fazê-la correndo. Eu comecei e terminei praticamente só na faculdade.

A gravação foi feita no verso da matriz da primeira xilo, uma cedrana no tamanho de 14 x 19 cm. O registro que ficou, além da cópia impressa, é o da matriz depois de gravada e entintada, mostrada abaixo.


A impressão ficou, como de costume, invertida, e foi feita apenas com tinta preta. Eu não cheguei a fazer uma série da mesma, mas esta foi uma das melhores cópias tiradas, sem borrões e nem tinta em excesso, o que possibilitou a visualização dos veios da madeira no fundo chapado, como eu imaginei que ficaria enquanto estava gravando.


Apesar da rapidez da gravação, o resultado final ficou bem melhor do que a gravura anterior, já que eu consegui um maior nível de detalhes com mais qualidade. No entanto, como a matriz utilizada era a mesma da primeira, até o momento da conclusão do trabalho eu não tinha como dizer se algumas das minhas dificuldades eram por inexperiência ou por conta da resistência que cada tipo de madeira apresenta – ou pelos dois motivos. Somente quando fiz as gravuras seguintes eu pude tirar minhas conclusões. Mas isto eu deixo para falar em outra postagem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Mais profundo

"Sem título", nanquim e aquarela
sobre moleskine, 2012.

“De todos os órgãos essenciais à vida, o coração há muito que ocupa uma posição única na nossa história cultural, sendo considerado a sede da alma, do amor, dos sentimentos e do espírito.” (Encyclopaedia Anatomica).

Testando alguns materiais novos e estimulado pela frase acima, aproveitei para experimentar algo mais interior e resolvi estudar o coração. O engraçado é que só depois que terminei me dei conta de que o trabalho ficou, de certa forma, parecido com o cabeçalho do blog.

Pode ser só coincidência, mas pode ser também alguma daquelas coisas que o coração fala em silêncio e que as palavras não sabem traduzir...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Retrospectiva 2011 (parte 1)

Chafurdando nos arquivos “ocultos” (ocultos porque alguns deles nem eu mesmo lembrava que existiam), achei algumas coisas que fiz no período em que não postei nada, e resolvi coloca-las na xinxa.

Estes mini desenhos foram feitos no sketchbook de bolso (5,5 x 7,5 cm) nos dois dias em que eu trabalhei no Enem (mas eu juro que eu fiz a minha parte e não tenho nada a ver com todos aqueles problemas que envolveram o concurso).

Página esquerda do sketchbook.

As duas páginas foram feitas sem nenhuma referência fotográfica, uma em cada dia, em que eu me preocupei apenas (como dizem por aí) em ficar “lambendo” o desenho, ou seja, desenhando sem pressa, cuidadosamente, com muitos detalhes como luzes e sombras e diferentes tipos de hachuras.

Página direita do sketchbook.

Aqui ficou bastante claro que o tempo que eu gastei em cada um deles não foi garantia para a produção de ótimos desenhos. Mas como o resultado final para mim não importava muito, o que eu realmente desejava era arranjar alguma atividade para passar o tempo e que não me deixasse dormir no ambiente de prova.

Páginas abertas do sketchbook.


















Moral da história: lamber sempre ajuda, mas só isto não garante muita coisa...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sentindo na pele

"Sem título", grafite sobre papel, 2011.

Ainda na ideia de arrumar e personalizar a casa, começo o ano com um autorretrato simples para acrescentar ao perfil do blog – e das outras redes também – utilizando o rei-dos-reis dos materiais, o mais banal e, entretanto, o que nunca te abandona: o velho e bom grafite.

Experimente na própria pele, mesmo que ainda de leve, o trabalho de descorticação que já venho fazendo há um tempo e gostei do resultado. Essa já era uma vontade antiga que, não sei o porquê, eu não havia colocado em prática.

Seja como for, espero este seja o primeiro estímulo para a produção de um autorretrato em tela seguindo esta mesma poética, mas bem mais detalhado e visceral, claro...

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano novo, blog novo!

Ho ho ho...
Tudo bem, é um pouco tarde para desejar um Feliz Natal. Mas ainda está em tempo de desejar a todos um feliz 2012!

Tudo o que pretendemos para o ano que se inicia é, de alguma forma, consequência da retrospectiva que fazemos em relação ao ano que se finda. Cada um dos nossos sonhos, desejos e anseios é também o resultado do que não fizemos, do que fizemos de errado, ou do que começamos a fazer, mas não terminamos. Lembrei-me de um antigo provérbio chinês que dizia: “há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”. No meu caso, eu acrescentaria mais uma: a ideia esquecida.

Muitas das ideias que pareciam “geniais” no momento em que passaram pela minha mente, não foram aproveitadas no momento oportuno e acabaram se perdendo. Por isso, depois de um longo período de incapacidade produtiva, percebi – mais uma vez – que o blog é como um motor que impulsiona a produção, porque mesmo que eu não tenha certeza de quem acompanha a página – ou se alguém está realmente acompanhando –, eu acabo me sentindo na obrigação de postar alguma coisa (mesmo que esta coisa não seja nenhuma genialidade).

E para manter o recinto aquecido, a primeira atitude foi a de dar uma repaginada na aparência do site. Afinal, ano novo, blog novo! Visual mais “clean”, mais enxuto, totalmente personalizado, bem mais a minha cara. Quando eu compro um material novo ou quando faço um novo sketchbook, a vontade de rabiscar, desenhar, colar, pintar... enfim, a vontade de criar aumenta bastante. Eu espero que a vontade de postar seja semelhante com esta nova aparência.

Tenho, sim, como todo bom vivente que se preze, minhas promessas para este ano. Mas além das que já deixei bem claro – disciplina para uma maior produção e compartilhamento do que foi produzido, seja aqui ou em outras redes –, não convém citar nenhuma agora. Deixo apenas, a quem acompanha ou não este blog, o meu desejo de um ano melhor que o anterior, de mudanças constantes, cada vez mais, sempre e sempre. E para concluir este novo começo, faço minhas as palavras de Fernando (sábio) Sabino:


De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando,
A certeza de que é preciso continuar,
E a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.

Façamos da interrupção um caminho novo,
Da queda, um passo de dança
Do medo, uma escada
Do sonho, uma ponte
Da procura, um encontro.

E assim terá valido a pena existir!