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"Letícia", pastel, carvão, sépia, sanguínea e grafite sobre sketchbook, 2011. |
Eu havia acabado de assistir a uma aula de anatomia onde passei duas horas na presença de três cadáveres – eu até cheguei a desenhar um deles sem muitas pretensões e me surpreendi com o resultado. Mas, de fato, o que não saía da minha cabeça era a seguinte questão: o que nos torna diferente de qualquer outro ser vivo do planeta?
Segundo o viés religioso, a alma seria a resposta. Mas, independe de qualquer crença, não se pode negar que a nossa capacidade intelectual é o fator que nos diferencia. Nossas estruturas internas, como órgãos, músculos e ossos são semelhantes à de vários animais. No momento em que se percebe a ausência de vida, todos são apenas matéria e nada mais.
Mas ao chegar ao hospital, a sensação foi totalmente oposta, a pesar das diversas semelhanças. Ali a vida era o mais importante: tão linda, tão serena e, ao mesmo tempo, tão frágil. Vendo e convivendo com a vida e morte, tudo parece ter um novo sentido, e algumas perguntas se tornam inevitáveis: estamos realmente preparados para o futuro? Fizemos tudo o que queríamos e o que devíamos ter feito? Lutamos, acreditamos, desejamos e realizamos nossos sonhos? E, acima de tudo, fomos capazes de amar mais do que a nós mesmos? Amar mais do que os nossos medos, receios e egoísmo nos permite?
Mesmo sendo as perguntas o motor do mundo, há certas ocasiões em que buscar respostas é necessário, mesmo que algumas delas sejam um eterno mistério.
A única certeza é que assim é a nossa existência, cheia de começos e recomeços. E enquanto uns estão partindo, outros estão chegando. Não para substituir ninguém, mas para se completar o ciclo terreno e permitir que se renove, a todo instante, o milagre da vida.
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