sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Em processo: voltando às origens (parte 1)

Voltar às origens.Esta é uma boa frase para se iniciar a postagem. Primeiro porque o tema é a gravura, o que se refere a um conhecimento medieval no campo artístico quase esquecido na contemporaneidade. E, segundo, porque foi uma das primeiras disciplinas que cursei na universidade.

Na época, a matéria que fiz foi Introdução a Gravura, uma disciplina que apresenta um panorama da gravura como um todo, as técnicas empregadas, os materiais necessários, os artistas mais influentes, etc. Eu até cheguei a comentar sobre o tema em duas postagens mais antigas, “Gravura: técnica medieval viva nos dias de hoje” e “Buda”, mas descrevi melhor apenas a técnica da gravação em metal. Neste semestre estou fazendo xilogravura, ou seja, apenas gravação em madeira. Assim, resolvi colocar os primeiros passos do processo que ainda está em andamento.

Mesmo quando assunto é prático, não há como fugir da teoria. Antes de mais nada, foi preciso conhecer e entender um pouco melhor sobre a matéria prima, desde o momento em que ela ainda está plantada, até quando já está cortada e pronta para ser gravada. E até nisto é preciso “tirar o escorpião do bolso”, porque seria ótimo poder pegar qualquer resto de madeira de construção para utilizar no processo. Mas, infelizmente, isto não é possível por diversos motivos: madeiras sem qualidade podem estragar as ferramentas (que também não são baratas); racham com mais facilidade, impossibilitando a impressão; dificultam o processo de gravação, tornando-o mais exaustivo e demorado; e, acima de tudo, madeiras inapropriadas aumentam a chance de acidentes, o que também não é nada interessante para o artista que pode perder o movimento parcial – ou até total – de uma das mãos.

A madeira que escolhi para começar este processo, com o qual eu não tenho muita experiência, foi a cedrana. Ela possui a vantagem de ser mais clara, facilitando a visualização do desenho, mas possui os veios um pouco escuros, o que pode se confundir com a própria imagem, além de mudar a direção do corte no momento da gravação.

Matriz para xilogravura.

Como não poderia deixar de ser, o segundo passo foi estudar e elaborar a imagem a ser gravada. O que já havia entendido na disciplina anterior é que desenho e gravura são coisas totalmente diferentes. E mais uma vez estou comprovando que isto é verdade, pois nem tudo o que se imagina e se coloca no papel pode ser feito na madeira. Deve-se desenhar já pensando no que será preciso fazer na matriz, em como cada área da imagem será gravada e até com qual ferramenta vai se trabalhar, se com o formão em formato “V”, com o formão em “U”, com as facas, etc.

Estudo para xilogravura.

Depois de feita a imagem, é preciso desenhá-la novamente na matriz, tomando cuidado para não deformá-la, pois isto também pode alterar a impressão. A grosso modo, o processo se dá mais ou menos da seguinte forma:
- desenha-se na madeira;
- com as ferramentas de corte, vai-se retirando ou subtraindo a madeira onde se desenhou, como se estivesse desenhando novamente;
- como a madeira é plana, depois de completamente gravada, passa-se tinta gráfica em toda a superfície para poder imprimir. Nos locais em que não se retirou a madeira, a tinta passará para o papel, e nos que se obteve o encavo, não;
- por fim, coloca-se o papel em cima da matriz entintada, faz-se o processo de transferência e se obtêm a imagem que foi gravada – porém, espelhada, algo semelhante ao que ocorre quando nos olhamos no espelho.

No momento, já lixei a madeira, transferi o desenho e comecei a gravar.

Processo de gravação na matriz.

A área que está rosa é apenas para eu lembrar que eu não devo alterar nada, pois a ideia é conseguir um preto mais intenso nesta região.

Quando o trabalho estiver mais adiantado – ou terminado – eu postarei outras fotos mostrando as etapas do processo até a conclusão, que é a imagem impressa.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Sem título", grafite sobre
sketchbook, 5,5 x 7,5 cm, 2011.

Sketch rápido feito há alguns dias para comemorar o fim da minha pesquisa de iniciação científica. E o que tem a ver uma coisa com a outra?

Bom, na verdade, eu estava tão cansado depois da apresentação do artigo que comemorei dormindo no ônibus. Mas como eu peguei um engarrafamento de respeito por mais de uma hora e meia, depois de um tempo meu pescoço já estava doendo e eu não consegui mais dormir. Então, quando acordei, percebi que o céu estava mais cinza do que de costume e que o ar estava visível e "cheirável" (e eu não estou falando de desodorante vencido...).

Assim, acabei fazendo o desenho acima sem nenhuma pretensão, em mais ou menos 15 minutos e sem alterações posteriores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O milagre da vida

Minha sobrinha Letícia nasceu na quinta-feira passada, dia 22 de setembro de 2011, às 17h40, com 3,570 kg e 51 cm. E para não perder a tradição, terminei agora a pouco um desenho dela com apenas algumas horas de vida.

"Letícia", pastel, carvão, sépia, sanguínea e grafite sobre sketchbook, 2011.

Por conta do horário do parto, eu só pude vê-la na sexta-feira. Eu saí da universidade direto para a maternidade. O que achei interessante foi a coincidência que me fez refletir sobre diversas coisas.

Eu havia acabado de assistir a uma aula de anatomia onde passei duas horas na presença de três cadáveres – eu até cheguei a desenhar um deles sem muitas pretensões e me surpreendi com o resultado. Mas, de fato, o que não saía da minha cabeça era a seguinte questão: o que nos torna diferente de qualquer outro ser vivo do planeta?

Segundo o viés religioso, a alma seria a resposta. Mas, independe de qualquer crença, não se pode negar que a nossa capacidade intelectual é o fator que nos diferencia. Nossas estruturas internas, como órgãos, músculos e ossos são semelhantes à de vários animais. No momento em que se percebe a ausência de vida, todos são apenas matéria e nada mais.

Mas ao chegar ao hospital, a sensação foi totalmente oposta, a pesar das diversas semelhanças. Ali a vida era o mais importante: tão linda, tão serena e, ao mesmo tempo, tão frágil. Vendo e convivendo com a vida e morte, tudo parece ter um novo sentido, e algumas perguntas se tornam inevitáveis: estamos realmente preparados para o futuro? Fizemos tudo o que queríamos e o que devíamos ter feito? Lutamos, acreditamos, desejamos e realizamos nossos sonhos? E, acima de tudo, fomos capazes de amar mais do que a nós mesmos? Amar mais do que os nossos medos, receios e egoísmo nos permite?

Mesmo sendo as perguntas o motor do mundo, há certas ocasiões em que buscar respostas é necessário, mesmo que algumas delas sejam um eterno mistério.

A única certeza é que assim é a nossa existência, cheia de começos e recomeços. E enquanto uns estão partindo, outros estão chegando. Não para substituir ninguém, mas para se completar o ciclo terreno e permitir que se renove, a todo instante, o milagre da vida.

domingo, 4 de setembro de 2011

Pensamento da semana

"Ao desenhar, você recorrerá a uma parte de seu cérebro que é quase sempre obscurecida pelos detalhes do cotidiano. A partir desta experiência, você desenvolverá a capacidade de perceber as coisas, sob uma nova ótica, em sua totalidade, a enxergar padrões subjacentes e possibilidades de novas combinações. Novas modalidades de raciocínio e novas maneiras de utilizar todo poder do seu cérebro lhe propiciarão acesso a soluções criativas para os seus problemas, sejam eles pessoais ou profissionais.
O ato de desenhar, embora prazeroso e gratificante, é apenas uma chave para abrir as portas de outras metas."

Betty Edwards, em Desenhando com o lado direito do cérebro.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pavilhão João Calmon

Aproveitando o horário de almoço sem almoço na UnB, passei perto de um dos prédios da ala norte e, como estava armado com dois sketchbooks e meu estojo de materiais, resolvi desenhá-lo em uma visão um pouco distante.

Primeiramente, fiz um sketch rápido no local com lápis 2H, quase imperceptível, apenas para demarcar o desenho sem forçar demais o papel.


Já em casa, redesenhei-o com caneta nanquim, corrigindo alguns detalhes e melhorando outros, sem, no entanto, buscar um traço muito preciso, já que o que pretendia era este desenho mais rápido. Por isso, podem-se perceber claramente alguns erros de perspectiva, assim como erros na própria espessura da linha. O que está mais atrás deveria ter um traço mais delicado e suave, de modo que ele se perdesse na profundidade da imagem, o que não acontece.


E, por fim, adicionei a aquarela apenas em alguns pontos para dar um efeito que gosto muito, apesar de não usar com frequência.

"Pavilhão João Calmon", nanquim e aquarela sobre sketchbook artesanal, 2011.

Escolhi apenas o céu, as nuvens e as áreas verdes da grama para pintar. O verde, inclusive, ficou propositadamente diferente na região anterior da imagem, pois ali não é bem um gramado. Está mais para um matinho sem graça e com muita terra, cheia de falhas que mostram as áreas pelas quais as pessoas mais cortam caminho.

Eu continuo achando a hora do almoço uma hora sagrada. Por isso, mesmo eu não tendo gastado muito tempo para desenhar neste horário, espero que a greve acabe e o restaurante universitário ainda abra um dia. Afinal, carregar todo o meu material exige muita energia: o que começa pesando mais ou menos 1 kg dentro da mochila no início do dia, no final parece pesar 10 vezes mais! Haja coluna...