“Hoje em dia se enfatiza de tal modo o caráter expressivo inerente ao fazer-artístico, que o lado comunicativo da arte-linguagem fica relegado a um plano secundário. A arte parece ser, aos olhos da maioria, apenas uma espécie de autoterapia, uma maneira de cada um descarregar seus sentimentos pessoais, numa atitude de subjetivismo que nos últimos anos chegou as raias de um exibicionismo mórbido (impingindo aos espectadores a condição de voyeurs). E este subjetivismo reinante é projetado para o passado, como se em todas as épocas e culturas prevalecessem as condições atuais do mundo ocidental, e os artesãos e artistas não tivessem tido outra preocupação senão a de falar eternamente de si mesmos, de um “eu” que nunca existira antes nestas dimensões narcisistas ou, na verdade, nesta noção do individuo isolado da coletividade: cada um por si e contra todos. Outrossim, acrescenta-se o fato grave de, em nossa época, a arte ter sido praticamente destituída de qualquer função social. Os artistas parecem existir unicamente para produzirem uma mercadoria de luxo, supérflua quando não dispensável, trabalhando para um mercado chamado “livre”, no qual, aliás, cabe a eles ainda a tarefa de criarem uma demanda para suas produções artísticas.”
Fayga Ostrower, em Acasos e criação artística.
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