“Os criadores dos desenhos paleolíticos de animais eram, ao que tudo leva a crer, caçadores “profissionais” – pode-se presumir isso com certeza quase que absoluta a partir do seu conhecimento íntimo de animais – e é improvável que, como “artistas” (ou como quer que fossem chamados), estivessem isentos da obrigação de prover alimentos. [...] Se, como supomos, a representação de animais serviu de fato para fins de magia, então dificilmente se pode duvidar de que as pessoas capazes de produzir tais obras também fossem olhadas como dotadas de poderes mágicos e veneradas como tais – um status que acarretava certos privilégios e, pelo menos, uma parcial isenção das obrigações cotidianas. Diga-se de passagem que a técnica elaborada e refinada das pinturas paleolíticas também atesta que estas obras eram executadas não por diletantes, mas por especialistas treinados que consumiram parte considerável de sua vida aprendendo e praticando arte, e que já constituíam uma classe profissional. [...] O artista-mago, portanto, parece ter sido o primeiro representante da especialização e da divisão de trabalho. De qualquer modo, sobressai da massa indiferenciada, a par do feiticeiro propriamente dito e do curandeiro, como o primeiro “profissional”. Como possuidor de dotes especiais, é também o precursor da classe sacerdotal propriamente dita, a qual reivindicará ulteriormente ser detentora não só de aptidões e conhecimentos excepcionais, mas também de uma espécie de carisma que a isenta de todo o trabalho ordinário.”
Arnoud Hauser, em História social da arte e da literatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário