sábado, 30 de julho de 2011

Nu

Um dos grandes representante do Modernismo, Manuel Bandeira foi um gênio com as palavras.
Mesmo tendo uma história tão triste, o autor foi capaz de produzir sonhos e elevar o imaginário de tantos leitores transportando-os, por exemplo, para Pasárgada, terra onde tudo seria possível, um refúgio para se livrar dos sofrimentos que lhe assolavam o espírito em toda sua longa vida.

Para aproveitar bem o sábado, nada melhor que viajar nas palavras do poeta. Foi exatamente o que fiz.

Depois de ler várias vezes o poema abaixo nos últimos dias, resolvi ilustrá-lo.
Continuo acreditando que a imagem material não substitui a imagem mental que as palavras podem proporcionar. Mas, seja como for, é sempre bom encarar o desafio.

Utilizei grafite, nanquim, aquarela e tinta acrílica sobre uma página previamente manchada com spray em um dos sketchbooks artesanais - o mesmo das outras duas ilustrações de grandes poemas de dois autores brasileiros, Drummond e Castro Alves (postagem "Ilustrando a leitura" e "Dama Negra").

Abaixo, a ilustração e o magnífico poema:

"Nu", técnica mista sobre sketchbook, 2011.

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu'alma
Nua, nua, nua...

Manuel Bandeira, "Nu".

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