terça-feira, 26 de julho de 2011

Auto [Re] Conhecimento

Em 2009 eu comecei a pensar sobre as questões que envolvem a poética do autorretrato. Quais motivos levaram – e levam – os artistas – ou não – a se retratarem, foi o ponto de partida para uma extensa pesquisa teórica e prática que iniciei quase que por acaso.

Imaginando como seria fazer uma série de autorretratos bem extensa, propus-me um desafio que foi quase uma insanidade: desenhar, durante um ano, um autorretrato por dia! Eu poderia ter feito um por mês, por quinzena, ou até por semana, mas preferi o caminho mais difícil...

Dei o nome de “Auto [RE] Conhecimento” ao projeto, e comecei o ano de 2010 com aquela empolgação. Mas logo ela foi abalada pelo cansaço e obrigação de parar, sentar e desenhar a mim mesmo todos os dias. Assim, ainda no início do projeto, vi que o ideal era desenhar um autorretrato para cada dia do ano, e não necessariamente um por dia.

Capa do caderno de autorretratos.

Foi uma experiência difícil, mas que valeu pelos frutos gerados. Além da obrigação do exercício quase diário do desenho, desenvolvi, a partir deste trabalho, o meu projeto de iniciação científica. Estudei por um ano sobre a importância da prática do autorretrato como forma de autoconhecimento para as pessoas que não são artistas. Estou concluindo o artigo agora, mas falarei dele mais adiante em outra postagem.

Esta foi também uma oportunidade de trabalhar com materiais que eu não tinha muito costume de utilizar, como caneta bic, pastel, lápis aquarelável, grafite aquarelável, carvão, sanguínea, sépia, etc. Até marca texto eu cheguei a usar, mesmo sabendo que depois de alguns anos será praticamente impossível de se enxergar algo na página.

Já mostrei aqui no blog alguns estudos no ano passado, como, por exemplo, nas postagens “Feliz Ano Novo!” e “Autorretrato”. E é engraçado olhá-los novamente no caderno, bem como olhar as outras páginas, porque alguns autorretratos não se parecem em nada comigo. O caráter naturalista nem sempre é o mais importante – na verdade, acho que é o de menos. Alguns detalhes, como certos traços – mais suaves ou mais agressivos –, anotações no canto de alguma página – ou na página inteira –, mostram muito do estado de espírito em que me encontrava quando desenhei. Algumas imagens, inclusive, estão totalmente desconstruídas, quase irreconhecíveis. Folheando agora a pouco, achei alguns trabalhos interessantes, como os mostrados a seguir:

"Autorretrato nº 117", grafite sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 21", bic sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 225", grafite sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 85", lápis de cor aquarelável
sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 23", grafite sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 209", bic sobre sketchbook, 2011.

"Autorretrato nº 187", nanquim sobre sketchbook, 2011.

O curioso é que isto acaba virando um vício. Neste final de semana, por exemplo, aproveitando o momento de ócio enquanto trabalhava em um concurso, usei o meu menor caderno – o que me acompanha quase sempre no bolso – para ver se eu ainda conseguia me desenhar sem me olhar no espelho. O tamanho muito pequeno não ajudou muito para desenhar alguns detalhes, mas isto era o de menos...

"Autorretrato", grafite sobre
sketchbook, 2011.

O exercício do autorretrato é sempre interessante porque enquanto se desenha, mesmo sem querer, acaba-se pensando sobre a própria vida. E isso eu acredito ser o mais importante, pois o trabalho, independente de ser profissional o de ter alguma finalidade, acaba ganhando maior importância para quem o produz. Se o resultado não é visualmente semelhante a seu autor, isto não importa. Afinal, utilizando uma frase que li recentemente sobre o tema, "o que eu realmente sou, você não pode ver”.

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