“Quando a busca do laconismo e da simplicidade for reduzida a um primitivismo infantil, teremos perdido a validade dos conceitos; quando o impulso criativo de revelar a vida for transformado numa vaga caprichosa de energia desorientada, teremos perdido o controle sobre a direção e a experimentação; quando a procura da clareza e da ordem tiver sido desviada para o restauro do calão insensato do amadorismo disparatado, teremos perdido nossa herança artística; quando a nossa necessidade de ter definições, padrões e critérios tiver sido seduzida pelo burburinho emocional vazio, teremos visto a perversão da filosofia da arte e da estética. Quando o artista tiver vendido a sua categoria, a sua autoridade, os seus princípios, o seu profissionalismo, teremos assistido à ascensão do amador, e termos sido invadidos pela selva.”
Burne Hogarth, em O desenho anatômico sem dificuldade.
domingo, 12 de junho de 2011
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Exercitando a paciência
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"Sem título". Caneta bic sobre sketchbook. 2011. |
Indo para uma palestra hoje à noite, precisei contar com muita paciência para enfrentar o trânsito. E nada melhor para fazer isso do que a 'presença' de um sketchbook juntamente com uma boa música no mp4.
Quando comecei a desenhar, tudo estava fluindo bem. O problema foi que a velocidade foi diminuindo, diminuindo, diminuindo... até parar. Acho que o sketch até ganhou um tom dramático na medida em que minha raiva aumentava. É aquela famosa situação em que não há o que fazer. Descer do ônibus e voltar era impossível, já que a pista de volta estava ainda mais congestionada. O jeito foi esperar... e desenhar.
Fiquei pensando em um debate que eu estava vendo na tv um dia desses sobre a questão da leitura, em que um dos convidados comentava que os brasileiros, por não serem incentivados, não possuem tal hábito. Segundo ele, os europeus, ao contrário dos brasileiros, dentro de um ônibus ou trem, estão sempre lendo alguma coisa. Quem não lê é exceção. Dentro do ônibus que não estava muito cheio, notei quantas pessoas preferem ficar sem fazer nada, olhando umas para as outras, impacientes e reclamando, como se isso fosse resolver alguma coisa. Eu também estava reclamando, mas pelo menos estava fazendo algo mais.
É o famoso 'ócio produtivo': aproveitar o tempo que seria perdido para fazer algo mais útil. No meu caso, rendeu-me dois sketches feitos com caneta bic, sem aquela precisão ou limpeza. Desopilar a mente é preciso, seja com a leitura, com o desenho ou com alguma outra coisa que dê asas a imaginação.
A palestra foi sobre diário gráfico e processo criativo com o artista e ilustrador Renato Alarcão. Mesmo chegando um pouco atrasado, deu para ver muitos cadernos de artistas famosos, como os de Da Vinci, Picasso, Delacroix, etc., e de não artistas também, como os de Darwin e Tomas Édson. O diário gráfico, como já comentei aqui no blog, é uma forma de registrar ideias através de imagens, podendo, ou não, fazer o uso da escrita para auxiliar tal processo. Nos meus cadernos eu geralmente escrevo alguma coisa - como no desenho acima -, mas não me prendo as palavras. Às vezes eu posso até não conseguir descrever com palavras, mas sei que elas, de alguma forma, falam por si.
Fica aí a minha dica: um bom livro e/ou caderno para desenhar como quite obrigatório de sobrevivência. Não esqueça o seu antes de sair de casa.
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terça-feira, 7 de junho de 2011
Feitos um para o outro
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"Sem título". Grafite sobre skethbook padrão A8, 2011. |
Mais um sketch feito no caderninho companheiro de todas as horas.
Enquanto trabalhava no final de semana, pude estudar um pouco de anatomia na teoria e na prática (mas somente por meio do desenho, claro, já que não tinha nenhum presunto por lá). Nada mais justo. Afinal, depois de acordar às 4 da manhã no sábado - e no domingo também! - para chegar a tempo no local de trabalho, nada melhor que começar o dia com um bom desenho para esquentar. Foi como um chocolate quente para meu cérebro...
Como estava muito frio, minha mão tremia tanto que isso acabou ajudando um pouco na construção das hachuras. Mas com certeza eu ainda prefiro o método tradicional de desenho, ou seja, o que se controla a mão por vontade própria independente do clima...
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Fazendo a cabeça
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"Sem título". Caneta bic sobre sketchbook, 2011. |
Estudo de construção de cabeça segundo o método de Burne Hogarth em um papel totalmente contraindicado.
Na verdade, não é que o papel kraft não possa ser utilizado para estudo. Muito pelo contrário, para algumas pessoas esta é a sua única finalidade - o que não é o meu caso, apesar de eu também usá-lo com este intuito, como em meus primeiros estudos de pintura em acrílico.
A questão é que o papel escolhido foi o de uma página do sketchbook que fora previamente manchada com tinta e spray antes de ser costurada, o que atrapalha a visualização do traço de maneira geral -no caso, feito com caneta bic (aquelas guerreiras, que se não forem perdidas ou 'roubadas' por engano quando alguém te pede uma caneta emprestado, duram uma eternidade...).
Na verdade, isto foi mais uma diversão do que estudo propriamente dito. Mas como, para mim, muitas vezes essas duas coisas se misturam - e esta é sempre a minha meta! -, então tá valendo!
Burne Hogarth ficou muito conhecido pelos seus livros de anatomia para artistas e também por ser um dos grandes desenhistas do Tarzan. Seu método de ensino é muito interessante. Algumas pessoas não gostam porque dizem que ele é muito exagerado, que ele ensina anatomia de uma forma que o corpo não é na realidade. Eu discordo completamente. Segundo ele mesmo em seu livro "O desenho anatômico sem dificuldade", ele quer se afastar do desenho de anatomia médica e se aproximar da anatomia artística. O que vejo em seus desenhos é que ele exagera nas formas como uma maneira de mostrar para o leitor/aprendiz onde estão as estruturas do corpo, como elas funcionam e se relacionam. É uma forma de ver o interior do mesmo sem, contudo, mostrá-lo interiormente. Seus livros em português, infelizmente, estão todos fora de catálogo, mas é possível achá-los em inglês facilmente (inclusive para download). Para saber mais, basta entrar em seu site oficial: burnehogarth.com.
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