sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sketch no metrô

Essa semana precisei andar de metrô e como consegui a proeza de ir sentado (sem precisar deixar nenhuma tiazinha de pé), acabei fazendo um sketch rápido de dentro do vagão. Claro, não preciso nem dizer que a hora e o sentido do trem ajudaram muito, já que no horário de rush, se eu conseguisse ir sentado - o que já seria um milagre! - de tão cheio, desenhar seria impossível (a não ser que eu quisesse esquematizar a barriga de alguém).

Coloquei aqui três etapas diferentes para que se veja que é possível fazer um trabalho legal mesmo que o ambiente não seja muito favorável. Neste caso, foi o metrô, mas poderia ser também um ônibus, um carro ou um lugar público muito congestionado.

Este primeiro desenho, foi feito apenas dentro do vagão.


Depois, já em casa, cobri as linhas com caneta nanquim e adicionei alguns detalhes que tinham no ambiente e outros que imaginei para melhorar a composição.


Por último, colori a ilustração com caneta colorida. Em algumas partes fiz questão de colocar as mesmas cores do ambiente. Em outras, como não lembrava mais do que algumas pessoas usavam, por exemplo, coloquei cores mais aleatórias.


É obvio que a imagem ficou bastante estilizada, mas minha intenção não era nada além disso - mesmo porque ela foi feita no meu menor caderno, ou seja, tem apenas 10,5 x 5,5 cm. Eu não quis representar as coisas de maneira tão simétrica e proporcional como em uma foto. Quis apenas registrar aquele momento de uma maneira que sei que ao olhar o desenho novamente, lembrarei exatamente daquele dia.

Este é um recurso muito usado por artistas, ilustradores, designers ou arquitetos para fazer trabalhos 'sérios': partir de um esboço de poucos minutos e passá-lo a limpo em outro suporte, reduzindo, ampliando ou até escaneando a imagem para trabalhá-la com softwares digitais.

Meu próximo desafio e desenhar na garupa de uma moto para ver o resultado.
É sacanagem, claro. Mas se as coisas continuarem como estão, em breve até os motoqueiros ficarão parados no trânsito. Aí, sim, não será nada impossível...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ilustrando a leitura

Relendo um dos poemas do maior poeta que o Brasil já viu, Carlos Drummond de Andrade,  comecei rabiscando sem muitas pretensões - e até sem me dar conta do que fazia - a ilustrá-lo.

É sempre arriscado dar materialidade a algo que se encontra apenas em visões geradas por palavras e seus diversos significados. Não se trata nem mesmo de tanta representar exatamente o que o escritor quis dizer, já que, depois de escrito, o texto adquire vida própria sob o olhar de quem o lê, não tendo mais apenas a visão de seu criador. A questão é que - citando o tão conhecido dito popular - se uma imagem vale por mil palavras, há também, em alguns casos como o do poema a que me refiro, ocasiões em que poucas palavras valem por muito mais de mil imagens.

Então, antes de mais nada, deixo logo o meu pedido de desculpas aos mais 'xiitas' que provavelmente não gostarão do trabalho. Eu mesmo acho que tais palavras merecem muito mais do que eu posso representar. Mas como exercício, bem como na tentativa de compartilhar da tão bela visão do poeta, creio que ser válido o esforço.

Abaixo, a ilustração sobre um dos cadernos artesanais feita em técnica mista - nanquim, pastel, carvão, aquarela, acrílica, spray e colagem (aproveitei que tinha o texto impresso e colei-o também na página). E, para concluir, o poema de Drummond.

"O chão é cama", técnica mista sobre papel, 2011.

O Chão é Cama

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Matando a saudade

Finalmente, hoje, depois de um bom tempo, pude parar, sentar, refletir e, o mais importante, voltar a desenhar a natureza.

Até cheguei a comentar em outra postagem o quanto esse contato me faz falta, já que ultimamente o tempo anda bastante escasso. Como já estava na UnB e só fiquei sabendo que a aula estava cancelada as 8h30 através de um e-mail enviado pela professora as 8h10 (bacana isso, não é?!), aproveitei que o caderninho e o estojo estavam na mochila e andei pelo campus atrás de um lugar agradável para esboçar.

Como a universidade é bem arborizada (e eu acho que ainda poderia ser mais), não foi difícil achar um local com muitas árvores e cantos de passarinhos. Não era o meu ideal bucólico, mas era o que tinha para hoje.

"Sem título", caneta colorida sobre sketchbook, 2011.

O desenho foi feito com caneta colorida Staedtler Triplus Fineliner 0,3 mm sobre papel canson 200 g/m² em um dos meus cadernos artesanais. Os resultados com estas canetas sempre me agradam, já que, além das cores muito vivas, com o traço muito fino posso fazer tanto pequenos detalhes como grandes áreas com hachuras.

Indico isto para todos: desligar-se um pouco da rotina e tentar ver a vida com outros olhos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para começar a semana com muita vida!

Como eu sou um girassol
Você é meu sol..

Ira!, "O Girassol".

"Sem título". Pastel e carvão sobre caderno artesanal.

A vida é assim: cheia de contrastes. Não há nada que não possua um antagonismo. Para cada coisa há uma não-coisa que também caracteriza a coisa. Em uma outra acepção, o que não é você também define quem você é.

Portanto, denotar o feio também caracteriza o belo, assim como representar a morte é também uma forma de exaltar a vida. Olhando por esse lado, os opostos podem até não se atraírem, mas precisam um do outro para serem quem (ou o quê) são.

domingo, 24 de abril de 2011

Pensamento da semana

"A massa é a matriz da qual emana, no momento atual, toda uma atitude nova com relação à obra de arte. A quantidade converteu-se em qualidade. O número substancialmente maior de participantes produziu um novo modo de participação. O fato de que esse modo tenha se apresentado inicialmente sob uma forma desacreditada não deve induzir em erro o observador. Afirma-se que as massas procuram na obra de arte distração, enquanto o conhecedor a aborda com recolhimento. Para as massas, a obra de arte seria objeto de diversão, e para o conhecedor, objeto de devoção."

Walter Benjamin, em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Em processo: Natureza Íntima 3 (Parte 5)

Para finalizar o processo do díptico Natureza Íntima 3, posto agora as telas uma do lado da outra para que se possa visualizá-la como um só trabalho.

Primeiramente, a tela apenas com a marcação do desenho, ainda sem nenhuma pintura.


Em segui, apenas com o fundo pintado.


E aqui, o resultado final.

Natureza Íntima 3. Óleo sobre tela, 60x42 cm, 2011.

Esse, a meu ver, foi o trabalho que mais se aproximou da ideia dessa nova série de telas – já mostrado aqui em alguns estudos ainda no moleskine. Ela possui mais delicadeza, harmonia e naturalidade. Creio que consegue atingir, até certo ponto, algo que ainda não tinha conseguido com as anteriores.

Não creio ser apenas por não mostrar o corpo, ou por não mostrar tão abertamente as estruturas internas, como na tela "Natureza Íntima 2". É algo que venho frisando já em outras postagens, o indizível, algo que sei que está lá, que me agrada, que me toca, que me move, mas que eu não sei explicar o que é. É claro que se fosse para ser explicado por completo não era uma pintura, e sim, um manual de "como observar e entender este trabalho". Mas percebo que ainda preciso entendê-lo melhor.

Assim, continuo travando este diálogo constante e vendo o que o trabalho tem para me ensinar.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ipe Ipe Urra!


Como o tempo passa. Recentemente ouvi uma frase do escritor Zuenir Ventura em uma entrevista que acho que cabe exatamente aqui: "hoje o dia parece ter apenas 12 horas." E acho que é verdade. Para mim não parece, mas há exatos dois anos iniciei o blog com minha primeira postagem.

Na época, não sabia bem como seria o andamento deste "projeto", o que aconteceria em longo prazo ou por quanto tempo esta página permaneceria no ar. Comecei apenas escrevendo, nada de imagens. Deixei que minhas ideias, mesmo prematuras, falassem por si. E elas falaram.

É interessante notar como somos capazes de nos transformar quando nos propomos a fazer mudanças. Comecei em 2009 com os primeiros trabalhos que eu havia feito desde o início do curso de artes em 2007. Hoje, é notável a falta de integração entre eles. Alguns até parecem feitos por diferentes pessoas. Mas cada um deles foi um passo a mais nesta caminhada e que, por isso, não pode ser ignorado, mesmo que meus anseios e perspectivas hoje sejam tão diferentes daquelas do início.

“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move”. A frase do educador Paulo Freire poderia ser facilmente atribuída a algum artista, pois é esse o ponto que move a arte, bem como toda a humanidade. Sinto que descobri o que realmente gosto de fazer, o que move meu trabalho como artista, através desta curiosidade, seja ela na forma de leituras e pesquisas sobre a representação do corpo, seja por meio da experimentação de materiais e técnicas. Tudo, claro, seguindo o método da tentativa e erro (muitos erros, diga-se de passagem).

Hoje estou com uma poética melhor definida, encaminhada, em processo, mas que precisa ainda de muito tempo – acredito que anos, até! – para ser concretizada e exprimir o que eu realmente eu desejo, representar o que realmente sou. Assisti há alguns meses a palestra do técnico Bernardinho. Ele, dentre outras coisas, falava da disciplina, insistência e persistência que um profissional deve ter se quiser ser realmente bom no que faz. É a regra dos 10 anos ou 10.000 horas. Este, segundo ele, é o tempo de trabalho necessário naquilo que se tem paixão em fazer para alcançar resultados significativos. Estou cada vez mais acreditando nessa teoria.

Neste momento de produção constante e incessante, vejo que quanto mais eu trabalho, mais longo parece o caminho que tenho pela frente. Se faço um desenho hoje, por exemplo, amanhã já observo pontos a melhorar. Outrora eu demoraria dias ou até meses para que enxergasse certas coisas. Isso quando não percebia estes mesmos pontos somente quando outra pessoa os indicava. Aos poucos desenvolvo um olhar mais crítico e exigente sobre mim mesmo, pois acredito que o artista deve ser seu crítico mais severo, e é esta uma das minhas metas diárias.

Em todo este tempo de trabalho – ainda pouco, como já dito – muita coisa mudou, e vejo isto como um ponto extremamente positivo. E o blog foi um dos instrumentos que impulsionou estas transformações. Por muitos momentos (e quem acompanha desde o início sabe disso) quase o abandonei por diversos fatores. Mas a persistência é fundamental para se alcançar o pico da montanha.

Por isso, hoje queria apenas agradecer a todos os amigos que me incentivaram a continuar e que fizeram parte de todo este processo. Obrigado aos seguidores, aos que comentaram em postagens, aos que perguntaram, questionaram e divulgaram. Obrigado também aqueles que não fizeram nada disso, que apenas uma ou duas vezes por ano (talvez nem isso) deram aquele “confere” por aqui. Obrigado também aos que estavam só de passagem, que entraram aqui por acaso, navegando pela net, e que nunca mais voltaram...

Por fim, cito as palavras com as quais concluí a primeira postagem: “obrigado pela visita e, mais uma vez, sejam todos muito bem vindos!” Sintam-se sempre em casa para aparecerem quando quiserem.

Hug of the bear, people...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Estudos para descorticação visual

Alguns estudos ainda para uma próxima tela. Aqui, o foco foi o rosto e a região interior ressaltada foi a dos olhos.

Neste que foi o primeiro estudo dos três, a região sem pele foi apenas a dos músculos orbicular das pálpebras, ou seja, estes músculos circulares que recobrem a órbita dos olhos. Tentei ressaltar o olhar com um brilho que parecesse bem vivo, e segui com hachuras no resto da imagem. Achei o resultado interessante, mas a falta de cor impossibilitou, a meu ver, uma melhor harmonia ou compreensão da proposta.


Neste segundo, continuei com a ideia do brilho dos olhos como forma de incorporar vida a personagem, mas abri mais a região descorticada, pegando uma parte dos músculos do nariz, dos músculos inferiores e o início dos temporais, perto das orelhas. Fiz também cabelos cacheados para variar um pouco e exercitar, já que, mesmo achando lindo, não é sempre que os desenho.


Já no terceiro, retirei o globo ocular para tentar representar o olhar sem os olhos. Dei ênfase, então, nos ossos e fissuras dessas cavidades, sem a presença dos músculos laterais. Assim como nos dois desenhos acima, mantive a presença das sobrancelhas como forma de conservar o semblante do rosto.


A ordem da casa no momento é continuar em busca de uma visão mais profunda, visão além d'olhos (seja com ou sem a presença dos mesmos...), em busca de uma imagem que represente uma intimidade aconchegante das personagens e, quem sabe, do espectador.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Saudades da natureza...

"Não há pedra igualmente ao diamante
Nem metal tão querido quanto o ouro
Não existe tristeza como o choro
Nem reflexo igual ao de um brilhante
Nem comédia maior que a de Dante
Nem existe acusado sem defesa
Nem pecado maior que avareza
Nem altura igual ao firmamento
Nem veloz igualmente ao pensamento
Nem há grande igualmente à natureza."
Zé Ramalho, O Autor da Natureza.

Postando dois estudos para ilustração científica para relembrar - com bastante bucolismo - a saudade de desenhar ao ar livre.


Ultimamente os estudos estão me privando de algumas outras atividades muito prazerosas, como sentar debaixo de uma árvore e passar um bom tempo desenhando a natureza. Não que eu esteja reclamando, claro. Sei que o momento é mesmo de ficar enfurnado no quarteliê, e estou satisfeito com o resultados obtidos.


Mas assim que eu tirar a corda do pescoço, uma das primeiras coisas que vou fazer é matar a saudade da musa inspiradora de tantos artistas...

domingo, 17 de abril de 2011

Pensamento da semana

"Dois usos do desenho foram enfatizados: primeiro o seu uso como  um meio de expressão intelectual que difere essencialmente da linguagem verbal e portanto oferece um método extraordinário para analisar e lidar com temas e mostrá-los sob um novo ângulo; segundo, seu uso como uma forma de expressão estética, um meio de desenvolver a apreciação artística e um caminho para as fontes do prazer estético."

Walter Sargent e Elizabeth E. Miller, em How children learn to draw.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Em processo: Natureza Íntima 3 (Parte 4)

Enfim, o processo de conclusão do díptico "Natureza Íntima 3".

Esta primeira foto mostra o início da pintura do crânio. Nesta tela, coloque o mesmo mais amarelado, fugindo do branco que geralmente é usado para representar ossos.


A pintura do crânio um pouco mais adiantada e a dos olhos iniciada, mas ainda não finalizada.


Pintura do músculo temporal. A pintura dos músculos ainda é um dilema para mim porque ainda não cheguei a uma definição da coloração que eles devem possuir. Nas aulas de anatomia, bem como nos atlas fotográficos, os músculos possuem uma coloração mais apagada, já que não tem mais sangue circulando no local. Já nas fotos de cirurgias, os músculos são quase da mesma cor do sangue. Estou pensando no assunto e nas próximas telas já terei uma definição de como representa-los.


Aqui com o crânio mais bem definido com alguns detalhes, como as fissuras que separam as suas partes. A camada de gordura que separa a pele dos músculos e ossos também já estava pintada.


E, para terminar, a tela concluída. Antes de finalizar, diminuí o tamanho do globo ocular que estava levemente fora de proporção e aumentei o contraste dos olhos em relação ao crânio, bem com dei um acabamento em outros detalhes.


Em cada etapa deste trabalho apareceu uma dificuldade diferente, o que, por consequência, exigiu uma solução diferente. Isto é muito interessante, porque nem sempre "fórmulas" prontas funcionam para um determinado problema. Assim, o processo de cada trabalho é único, bem como a minha relação com cada um deles. Fica aí a dica para quem quer fugir da rotina e está atrás de fazer coisas novas.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

E a luta continua...

Continuo as postagens com mais estudos para uma nova série de telas. 


Ainda não defini o tamanho nem a quantidade, mas creio que só conseguirei pensar nisso depois de escolhidas as imagens. Elas precisam ser uma síntese de tudo o que venho fazendo até o momento e de tudo que se passa na minha cabeça.


Gostei muito desses dois desenhos. Acho que eles traduzem muito do momento atual que estou vivendo. Não sei bem esclarecer o porquê, mas se me pedissem para explicar a mim mesmo no dia de hoje, eu não usaria palavras, mas sim, as imagens acima. Elas contém algo a mais, um je ne sais quoi que eu não consegui definir, um elemento que sei que está presente, mas que foge de descrições e me surpreende cada vez que volto meu olhar para elas.

Vou continuar olhando-as e refletindo sobre. Talvez, descobrindo o que é - e conseguindo explicar com palavras - eu volto para dizer...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Do fundo do baú (mas nem tão fundo assim...)

Estudo para "Natureza Íntima". Aquarela sobre papel Fabriano. 60x58 cm, 2010.

Apesar da data de postagem, esse foi a primeira tentativa de colocar em prática os estudos que fazia inicialmente da série Natureza Íntima.

Na época, pensei em desenvolvê-los em papel e aquarela. Mas, como percebido em outras postagens, decidi pelo caminho do óleo sobre tela. Não se trata, em hipótese alguma, de valoração de uma técnica em detrimento de outra, já que é uma grande falácia acreditar que o trabalho em tela, simplesmente por ser em tela, é superior a um trabalho feito em papel.

Estudo para "Natureza Íntima" (sketch)

O papel tem as suas peculiaridades e dificuldades, bem como a sua conservação e cuidado diferenciado. Entretanto, isso não o desqualifica em nada. A aquarela é uma técnica fantástica e se usada corretamente, ou seja, com tintas de boa qualidade e suporte apropriado, sua durabilidade é a mesma, ou até superior, a durabilidade de uma tela. Prova disso são as aquarelas de mais de 500 anos de Albrecht Dürer que, se observadas de perto, continuam com o mesmo brilho e vida de quando foram feitas.

Estudo para "Natureza Íntima" (detalhe).

O motivo que me fez escolher a tinta óleo não foi nem necessariamente o impacto que ela pode causar, já que também é possível alcançar resultados bastante realistas com a aquarela - eu já vi até, acreditem, trabalhos hiper-realistas com lápis de cor! Escolhi esta técnica porque foi a que mais me dei bem desde que me empenhei na pesquisa e experimentei intensamente os materiais. A tinta óleo respondeu melhor as minhas expectativas, apesar de eu gostar muito de trabalhar com aguada.

Estudo para "Natureza Íntima" (detalhe).

Seja como for, esse trabalho apresenta várias coisas que acredito, neste momento, já com algumas ideias mais amadurecidas, não fazerem mais parte do que pretendo alcançar, como esse elemento mais narrativo presente neste tríptico. Há outros elementos como a sobreposição de camadas, as cores escolhidas e o fundo que também não repeti nos trabalhos posteriores.

Mas, como tudo é um processo contínuo, não me arrependo de tê-lo feito desta forma, bem como de mostrá-lo, já que, se alguém olhar para ele hoje e me disser que prefere algum trabalho mais atual pelo motivo que seja, já ficarei mais satisfeito com esse amadurecimento...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

E agora, José?


Esse tem sido um momento de grandes mudanças em minha vida. O meu curso está quase no fim e além das dúvidas que quase todo formando tem, como as de mercado de trabalho, por exemplo, a busca por desenvolver ainda mais a minha poética está cada vez mais intensa.

Conversava exatamente sobre isso ontem, dizendo que, na universidade, quando converso com estudantes de outros cursos e eles perguntam quantos créditos nós, de artes plásticas, podemos pegar por semestre, eles sempre comentam: "Nossa, só isso?", ou "Quem me dera poder pegar poucas matérias assim...". Mas a questão é que, se na maior parte dos cursos os estudantes apenas leem para compreender e introjetar um determinado conteúdo, nós, além de lermos bastante, devemos conseguir colocar para fora o que temos em mente; vomitar uma inquietação, um incômodo, um dilema; expelir o que nos move na forma de um trabalho físico - ou não - atrelado a uma estética que não pode ser definida apenas com palavras. Ora, se assim fosse, não desenharíamos, pintaríamos ou esculpiríamos o que quer que fosse; escreveríamos um poema, uma dissertação, um livro.

No meu caso, o desenho acima é um exemplo desses dilemas. Esse é mais um estudo que pode virar tela, mas que não necessariamente diz tudo que eu quero dizer - mesmo porque, como acabei de escrever, nem tudo deve ser explicado; deve, ao contrário, ser sentido. Mas como colocar todo esse sentimento através de uma materialidade? Que estética é mais adequada? Que linha, formas, cores, tamanho, posição?... Tudo são dúvidas que não param um minuto sequer de atormentar a minha mente. Onde quer que eu vá, o que quer que eu faça, elas estão ali, mostrando-me empiricamente a sabedoria de Sócrates: "Só sei que nada sei."

Mas, como o curso está findando, tenho que saber de alguma coisa. E sei que saberei na hora certa. Agora, saber que momento será este, quanto tempo ainda demorará para acontecer ou quantas noites de sono mal dormidas e interrompidas ainda terei pela frente, já são outros quinhentos.

Por hora, termino a postagem como Drummond, o maior poeta brasileiro, termina um de seus mais conhecidos poemas:

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

domingo, 10 de abril de 2011

Pensamento da semana

"A criatividade, como se tem dito, é composta em grande parte de rearranjar o que conhecemos para encontrar o que não conhecemos. [...] Assim, a fim de pensar de modo criativo precisamos ser capazes de olhar de novo para aquilo que normalmente deixamos de dar atenção."

George Kneller, em The art and science of creativity.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em processo: Natureza Íntima 3 (Parte 3)

Ainda no processo da tela Natureza Íntima 3, postando agora a segunda parte do díptico.

Começando pela desenho já transferido para a tela. Aqui coloquei algumas outras marcações, inclusive uma circular do lado direito no fundo para demarcar as diferenças de vermelho no fundo.

 

O fundo vermelho já pintado segue a luz que vem da direita para esquerda, que pode ser percebida melhor observando as duas telas ao mesmo tempo.


Aqui o início da pintura da pele e a primeira camada dos músculos do crânio.


A pintura da pele um pouco melhor trabalhada, mas ainda não finalizada.


E, para finalizar, a boca já pintada e alguns detalhes da pele finalizados, como o lado esquerdo do rosto, o brilho do nariz, da bochecha e do queixo.


Na próxima postagem colocarei o resultado final deste processo.
Inté...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Estudo anatômico

Estudo anatômico de uma dissecção da face humana em nanquim.


Aqui estão representados os músculos mais superficiais, bem como algumas veias e cartilagens.

Neste momento, para o trabalho em que venho pesquisando, o estudo de cada uma dessas estruturas tem sido fundamental, mesmo porque pretendo avançar mais nesta poética do descorticado.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Olhando para o céu

O tempo esses dias está uma loucura! Em Brasília não se sabe o que esperar mais do clima. O dia começa com muito sol, mais tarde fica nublado, vem uma neblina na hora do almoço, um pé d'água na hora da sesta, uma brisa mais para frente e, no fim de tarde, o sol volta trazendo o poente de uma tarde de primavera em pleno verão...


Nestes dias de tantas incertezas, gosto de parar e olhar para o céu. Ele, com suas incessantes metamorfoses, é, de certa forma, um reflexo do que sentimos, uma extensão dos nossos pensamentos, das nossas impressões, alegrias e tristezas. É, a meu ver, um espelho da alma.


O meu maior prazer quando posso parar e sair da rotina, em um dia como esses, é observar - e fotografar - o céu debaixo de muitas árvores, se possível até deitado no chão. Claro que, em um dia de chuva, o que menos se quer é deitar no molhado - a não ser nos casos em que o que se pretende é deixar a chuva limpar as impurezas impregnadas no espírito...


Gosto de me perder nos caminhos que cada galho faz até se mesclar no azul do céu. Do tronco, passando pelos galhos maiores, para os menores, menores e menores... até, quando é o caso, ver o verde das folhas (ou amarelo, dependendo da época do ano) pintar a paisagem como um quadro em pontilhismo.


Para alguns, soa um pouco - ou muito - exagerado ou excessivamente bucólico falar de algo tão corriqueiro com tamanha paixão. Mas para mim, estar em contato com a natureza e observar as irregularidades nela contida - como a dos galhos das árvores -, é me aproximar do indizível existente no invisível.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sketch on the bus


Sketch rápido feito no fim de semana dentro de um ônibus no caderninho no padrão A8, só para não perder o costume... As linhas foram reforçadas posteriormente com caneta bic.

Ao todo, foi mais ou menos uma hora de trabalho (ou melhor, de distração). Não tem jeito melhor de passar o tempo do que este.

domingo, 3 de abril de 2011

Lá nos primórdios

"Gorila", carvão, pastel e sanguínea sobre papel vermelho e spray.
"Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
o que o macaco fazia
..."


Ilustração direto do mundo animal para começar a semana.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pensamento da semana

"Determine-se a praticar o desenho, desenhando um pouquinho a cada dia, para não perder o gosto pelo desenho, nem se cansar dele... Não deixe de desenhar alguma coisa todo dia, pois por pequeno que pareça, será muito válido e lhe fará todo o bem do mundo."

Cennino Cennini, em Il libro dell'arte (cerca de 1435).