Quem não se lembra daquela propaganda da Faber Castell, com a música Aquarela, do Toquinho, em que um lindo desenho ia se formando e, como quem não quer nada, tudo terminava em uma bela pintura à aquarela? Pena que na realidade não é tão fácil assim.
Na verdade, não é tão fácil quando o que se pretende é o domínio preciso da técnica, porque a aquarela se caracteriza pela sua capacidade de se expandir ocupando todo o papel como se tivesse vida própria. A aquarela é como uma pilha de louças sujas na pia: ou você a domina ou ela domina você...
Comparações cretinas a parte, o domínio da técnica mais precisa, como no caso da ilustração científica, leva anos de prática para ser adquirido. E para isso, o artista não pode ficar brigando com o material, algo que é frequente quando se trabalha com materiais de baixa qualidade. É claro que nem todo mundo precisa comprar o que há de mais caro para pintar com aquarela, mas com certeza um bom material facilita o trabalho, proporcionando mais conforto, praticidade e, claro, os melhores resultados.
Para tanto, a melhor tinta, sem dúvida nenhuma, é a da “Winsor & Newton” da linha “Artists”. O papel deve ser específico para aquarela, tendo no mínimo 250 g/m2. E, não menos importante, um bom pincel é fundamental. Os da “Serie 7”, também da mesma marca, são fabricados de modo totalmente artesanal, com todo cuidado e precisão necessária. Feitos de pelo de marta, são os que possuem maior capilaridade, ou seja, capacidade de absorver e reter água e tinta, maior flexibilidade e capacidade de recuperar a forma após a pincelada. São todos materiais importados da Inglaterra, fabricados desde 1832 – daí já se percebe o porquê de seu preço...
Tendo em mãos o material necessário, a técnica funciona mais ou menos assim: já com o desenho pronto, devem-se usar dois pinceis – o ideal são dois da mesma numeração –, um deles com tinta e o outro com água – na mesma quantidade. Passa-se então a tinta no papel e, rapidamente, o pincel com água na borda da camada de tinta para diluí-la e dar aquele efeito de transição de uma cor para a outra. Mas aí é que estão os problemas. Como saber se a quantidade de água e de tinta nos dois pinceis é a mesma? E como não deixar a tinta aplicada no papel secar, se em menos de 15 segundos ela já não mais permite fazer o efeito citado? Para elucidar melhor, vou mostrar minhas primeiras tentativas de pintar uma simples folhinha.

Essa foi primeira experiência. Eu poderia dizer que é uma folha meio modernista, em que eu tentei descaracterizar o que eu realmente via, etc, etc, etc... Mas a verdade é que eu não consegui fazer esse efeito de transição nem com “reza braba”!

Com mais calma, mais atenção e mais agilidade, essa foi a segunda tentativa utilizando a mesma folha como modelo. Ainda com muitos erros e com muita dificuldade, comecei a entender a lógica da técnica.

Outra tentativa posterior com um pouco mais folhas, de treino e paciência.

E, para terminar, um ramo de folhas de um Ingá-feijão – Inga marginata, da família Fabaceae – para uma prancha de ilustração científica. Aqui já se percebe a presença da luz, a forma irregular das folhas e os diferentes tons entre as nervuras, caule e folhas.
É obvio que ainda é um trabalho que precisa se aperfeiçoado, porque, creio eu, a técnica da ilustração científica, bem com a da aquarela em si, sempre pode ser melhorada. Ter consciência desta busca pelo aperfeiçoamento, consciência da própria imperfeição, de sua incompletude – bem como da incompletude humana –, é a receita para evoluir, seja nas artes ou na vida.