terça-feira, 26 de maio de 2009

Um filme de todos os dias...

Este foi um trabalho feito para a disciplina Seminário em Teoria, Crítica e História da Arte, em 2007, em que o tema principal era o cinema e suas formas de manifestação artísticas.

O vídeo era o trabalho de conclusão da matéria. Quando decidimos fazê-lo, procuramos uma inspiração inicial e encontramos a que precisávamos. Partimos do poema “Acordar, Viver”, de Carlos Drummond de Andrade, para falar de um tema cotidiano na vida das pessoas: o próprio cotidiano.

Cada detalhe foi meticulosamente pensado, visto que as idéias eram o que de melhor tínhamos a oferecer para a realização da obra. Diferente da vontade inicial em que iria retratar o dia de um personagem apenas, criamos três personagens distintos (que na verdade, tem muito mais em comum do que aparentam) que se relacionariam no decorrer da história. Um profissional com relativo poder aquisitivo, uma estudante e um desempregado. Cada qual vivendo a sua vida sem vida, de forma miserável, já que a rotina tomou conta de suas vidas e os sonhos já não mais existem.

Foi usado no decorrer do filme, imagens fortes que criticam o modelo capitalista em que vivemos, mostrando a dura realidade que não mais choca a maioria das pessoas, tão pouco os personagens. Eles têm consciência do mal que o cigarro faz, de quantos animais são sacrificados com crueldade para que se possa comer em um “fast-food” ou para se usar um produto de beleza, de quantas pessoas morrem no trânsito por conta do álcool ou do estresse do sistema em que vivem, mas não mais se importam. São indiferentes a tudo e a todos, pensando apenas em si mesmos.

Há ainda outra relação entre os personagens que é a incerteza do amanhã. Resolvemos representar essas dúvidas principalmente na estudante, pois ela está no meio de um caminho que decidirá seu futuro. Quem poderá dizer se ela será uma profissional de sucesso ou, quem sabe, mais uma entre a massa de desempregados que só tende a crescer. Todas essas duvidadas aumentam ainda mais sua indiferença e diminuem as suas perspectivas.

Há quem possa pensar que todo o filme é apenas um grande clichê. E é nesse ponto que culminam todas as iniciais, porque a vida dos personagens, bem como a de tantas pessoas, é apenas isso, um grande clichê, algo repetitivo, constante, imutável. Se esse pensamento ou outro do tipo se passar pela mente de quem assistir ao filme, nosso objetivo foi alcançado.

Decidimos deixar o filme em preto e branco para representar a ausência de vida dos personagens, rotulando-os em um padrão. Mesmo com diferentes histórias eles, de certa forma, são muito parecidos. As cenas em cores por nós utilizadas mostram uma dura realidade: de acidentes de trânsito, de abatimento e de testes de cosméticos em animais, de câncer de boca, pulmão, entre outras. O objetivo foi de tentar destacá-las para reforçar a crítica que fizemos, dando ênfase ao que já não mais chama nossa atenção.

Outro ponto essencial para a realização da obra foi a trilha sonora. Começamos com um som de despertador que representa o começo do dia dos três personagens e, longo em seguida, a música “Cities Of The Future” da dupla israelense Infected Mushroom, que traz uma velocidade que é inerente à sociedade contemporânea. Sua letra fala de alguém que quer ir para as cidades do futuro, traduzindo o que se pensava em outras épocas e, de certa forma, ainda hoje se pensa, que no futuro a vida será melhor do que no presente, com uma falsa noção de felicidade. Isso acarreta a inércia das pessoas, que querem que as coisas se tornem melhor, mas não fazem nada para mudar a sua realidade. Em seguida, usamos a música “Roots Bloody Roots” do Sepultura para representar as raízes “sangrentas” do capitalismo: as desigualdades, a exploração da natureza e dos animais, a hipocrisia e a desvalorização do indivíduo em relação ao capital. Ela foi colocada exatamente quando começamos a mostrar as cenas reais de abatimento de animais, seguindo por todo um período em que se mostrarão as outras cenas reais, bem como a representação da decadência dos personagens, que começaram em um certo ritmo e aos poucos vão se entregando a rotina e ao cansaço. Utilizamos ainda a música “Dream On” da dupla inglesa The Chemical Brothers para representar o fim do dia, que vem acompanhado do fim de seus sonhos - ou do restavam deles - após mais um dia banal em que tudo continua como antes.

É interessante também notar que os personagens são frios e indiferentes a toda a violência do cotidiano, mas que no fim do dia, os três conseguem se emocionar assistindo a algum programa qualquer de televisão.

Por fim, utilizamos imagens reversas, bem como a música ao fundo, mostrando ao fim novamente o som do despertador e o título do filme ao contrário, o que mostra que no dia seguinte toda a rotina irá se repetir, bem como já vem acontecendo sempre na vida deles... e também nas nossas.



Ficha Técnica:

Título: Cotidiano
Data: dezembro de 2007
Duração: 14 minutos
Equipe:
- Direção: Netinho Maia
- Roteiro, produção e filmagens: Netinho Maia, Lauro Gontijo e Juliana Coelho.
Edição de imagens: F. Sales Design e Netinho Maia.

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