sexta-feira, 1 de maio de 2009
Gravura: técnica medieval viva nos dias de hoje
A gravura é algo conhecido na vida das pessoas, mas a maioria delas não sabe identificá-las. É comum ouvir alguém dizer que gostou de uma gravura que está em um livro, revista ou jornal sem, no entanto, se tratar de uma gravura de fato.
De modo geral, chama-se gravura uma imagem que é feita a partir de uma matriz – madeira ou metal, geralmente – na qual se grava com ferramentas específicas, a partir do encavo, alguma imagem. Em síntese, o artista pega uma chapa de metal, por exemplo, e vai “desenhando” diretamente naquele material com uma ponta seca (nesse caso, algum objeto de metal que seja mais resistente que a chapa) e o sulco, o encavo que ali fica, servirá para abrigar a tinta que será impressa no papel assim como se encontra gravada na chapa.
O que torna a gravura um processo artístico é o fato do artista estar evolvido em todo o processo: da elaboração da imagem a gravação, obtendo-se um original, uma matriz, de onde serão impressas as imagens que levarão um título, uma numeração, a data e a assinatura do seu criador. Falar de gravura é ter em mente um trabalho artesanal, em que se está presente em todos os processos. A mão do artista em contato direto com sua obra.
Um fator importante na valorização de uma gravura é a quantidade de cópias que compõe a série. Nas gravuras, geralmente aparecem, por exemplo, à denominação 1/15, 5/10, 3/5 etc. O número que aparece primeiro diz respeito a que cópia se refere tal imagem, se ela foi a primeira a ser impressa, a segunda, a terceira... Já ó segundo número diz quantas imagens foram feitas a partir da mesma matriz. Sendo assim, quanto menor for esse segundo número, menos cópias existem da mesma gravura e mais rara é tal série. Logo, mais caro seu valor.
É interessante notar que mesmo se tratando de um trabalho que pode ser reproduzido, cada gravura é única, pois uma copia nunca sai igual a outra. Isso porque o processo de reprodução é feito manualmente. Um pouco a mais de tinta em um local muda uma imagem de outra na hora da impressão. Esta é uma das qualidades observadas em um bom gravador: quanto mais forem parecidas as cópias da série que compõe uma obra, mais valorizado é aquele trabalho. Somente com o advento das indústrias gráficas e com o surgimento da fotografia é que as cópias de uma reprodução passaram a ser exatamente iguais.
Eu particularmente gosto muito deste tipo de exercício, minucioso, técnico, que exige grande concentração e empenho para que se tenha um bom resultado. Creio que cada hora que se passa em contato com um trabalho desse tipo engrandece e enobrece o artista, valoriza sua obra.
Quando fiz a matéria de Introdução a Gravura, ficamos, eu e alguns amigos, praticamente morando no ateliê. Eu cheguei a passar 12, 13, até 14 horas por dia dentro daquele mesmo local, parando apenas para comer e respirar um pouco fora dali, já que os produtos químicos utilizados são muito fortes: tíner, querosene, álcool e vinagre. O interessante é que chegávamos sérios e compenetrados de manhã e depois de horas inalando aquela mistura de odores no ar, sem perceber, nos pegávamos rindo sem saber de que. Só faltava a cola de sapateiro para completar aquela marola...
É, sem dúvida, um processo cansativo, demorado, repetitivo e até enfadonho em certos momentos. Minha mão ficou calejada não apenas pela força que a gravação exige, mas também pelo processo de entintar, limpar a chapa, preparar o papel, colocar na prensa e girar para imprimir uma única cópia que, nem sempre, saía boa. Isso sem falar de como ela ficou detonada pelo contato com os produtos químicos. Mas foi gratificante ver uma série de imagens impressas que antes estavam apenas no meu imaginário.
Cada série das gravuras em metal abaixo é composta de 10 exemplares no tamanho 10x10cm.
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Eita... que negócio complicado essa tal de gravura, hein. Primeiro que eu nem sonhava o que era. Era uma daquelas que jurava que todos aqueles desenhos em livros e revistas eram gravuras. (Será que posso chamar de desenhos??). Imaginava menos ainda que para fazer uma gravura (destas gravuras de verdade mesmo) o artista tinha que ficar tanto tempo de marola...e com mãos calejadas. Agora sim, os artistas que fazem gravuras vão ter total o meu respeito!!! =D Então quer dizer q precisa primeiro fazer uma gravaçao em metal pra dpois se ter o resultado final. Tipo... aquela primeira figura q tu postou eh a mesma que essa primeira em preto e branco ( a tortura) neh?! E todas as gravuras sao preto em branco tb... Vc quem fez essas? Gostei a do palhaço sem dente!!! =D
ResponderExcluirbjuuu senhor artista blogueiro
É, nesse caso, é uma gravação em uma chapa de
ResponderExcluirmetal com a técnica da ponta seca apenas. Existe o processo de gravação na madeira, mas não quis entrar em muitos detalhes. Vou deixar isso para um outro post.
A imagem que eu coloquei primeiro é uma foto do processo de gravação no metal antes de fazer todo o processo de impressão, que resultou na gravura com o paspatour (essa borda preta, um tipo de moldura) mais abaixo.
E, por último, as duas gravuras são minhas sim.
Obrigado.
Netinho, estou estudando sobre pictorico e linear...entendi que o linear se baseia numa perfeição de imagem aliada às linhas que definem o desenho e pictórico são imagens ricas em luz e sombra que buscam transmitir sentimentos não se preocupando com delineações....por acaso é isso? meu e-mail lacarpino@yahoo.com.br
ResponderExcluirobrigada.
larissa.
Larissa,
ResponderExcluirLinear, como o próprio nome diz, se refere à linha, independente do modo em que se encontre. Já pictórico está mais ligado à pintura.
No contexto artístico, trabalhos que se dizem lineares são aqueles em que se percebe claramente o uso da linha para compor a obra; já os pictóricos são os que utilizam massa e cor para formar imagens.
Tentei descrever de forma mais simplista para que se tenha uma noção mais geral dos conceitos, uma noção mais primitiva. Entretanto, a forma como você descreveu não deixa de estar certa, mesmo tendo sido um pouco tendenciosa. Linear não está ligado necessariamente à perfeição, bem como não precisa haver luz, sombra ou a falta de delineamento para que se tenha uma imagem pictórica.
Não sei se fui tão claro, mas espero ter ajudado.
ola amigo,
ResponderExcluirVoce conhece algum brasileiro que trabalhe com gravura em armas deste tipo:
http://www.mtart.com/Ruger%20New%20Vaquero%20%2045%20Colt.jpg
agradeço
Yankel SS
yankelss@yahoo.com.br
Cara, não conheço não.
ResponderExcluirMas é um trabalho bem bacana, viu?!
Dá para desenvolver uma boa poética em cima disso...
Qualquer coisa, estamos aí.
Abraço.