domingo, 26 de abril de 2009

Os impasses (e os empatas) da Arte Moderno-contemporânea


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Depois de assistir a palestra com Affonso Romano de Sant’Anna nesta última quinta feira, não me contive e vim compartilhar aqui o meu ponto de vista sobre a atual situação da Arte no Brasil e no mundo. Mas, antes de qualquer coisa, vale deixar registrado que o meu comentário não é nada imparcial. Pelo contrário, sei que a minha opinião, assim como a de Affonso, que é um dos maiores e mais reconhecidos críticos de arte do país, vai desagradar muita gente.

O Modernismo foi um movimento que teve como intuito principal romper com toda a estética existente até o início do século XX nas artes em geral, como literatura, arquitetura, escultura, pintura e música. Não se pode negar de maneira nenhuma a importância que ele teve, pois sua proposta exigia, acima de tudo, a mudança de mentalidade de uma sociedade extremamente preconceituosa, racista, patriarcal e estamental, dentre outras desqualificações bastante cabíveis. Por mais que a idéia de evolução esteja presente na sociedade, a mudança parece não combinar com o pensamento humano. Basta lembrar, por exemplo, da inquisição na Idade Média, que perseguia e fazia churrasco de todos que ousassem dizer qualquer coisa que desagradasse uma minoria que estava no poder; ou lembrar da Revolução Francesa que, por buscar liberdade, igualdade e fraternidade, guilhotinou igualmente, como irmãos, os que queriam a liberdade para pensar e agir diferente do que era imposto pela burguesia, fossem eles pobres, autoridades políticas ou militares. Até mesmo seu inventor, Joseph-Ignace Guillotin, não se conteve e “perdeu a cabeça” (se bem que nesse caso eu tenho minhas dúvidas se foi mesmo uma condenação, já que dizem que todo bom inventor deve testar seu invento em si mesmo).

O problema não foi o pensamento radical existente no Modernismo. A sociedade precisava sim dessa sacudida que o movimento trouxe. A questão é o rumo que a Arte tomou desde então. Um dos grandes nomes da época que contribuiu para isso – impossível não citar – foi Marcel Duchamp. Por um lado, um artista brilhante, muito inteligente e irônico, um visionário, pode-se dizer. Por outro, o maior blefe da história da arte, o maldito infeliz que colocou o urinol dentro de uma galeria e ainda teve a audácia de assinar seu nome nele.

Marcel Duchamp - "A fonte"

Duchamp realmente foi um grande difusor de novas idéias e de novas concepções que a sociedade precisava entender e aceitar. “O problema é a má interpretação que se faz do seu trabalho”, segundo Affonso Romano de Sant’Anna. Enquanto ele sacaneia o público (e a Arte) com seu humor inteligente, seus seguidores interpretam ao pé da letra o seu trabalho. Isso sem falar nas obras inacabadas que são tidas como magníficas. “As obras de Duchamp não são para serem vistas, mas para serem lidas” afirmou Romano. Isso pode ser aplicado a diversas outras obras do século passado, nas quais a importância maior está na discussão que elas geraram. Ainda segundo o crítico, o maior problema dentre as peças que Duchamp pregava foi uma declaração dada por ele dizendo que a etimologia da palavra arte é “fazer”. Sendo assim, qualquer um que fizesse qualquer coisa seria um artista e essa qualquer coisa teria de ser considerada como arte. Mais uma vez ele estava sendo irônico, querendo (na minha opinião) tirar a arte de um patamar superior no qual ela era colocada, de algo divino, supremo, dos deuses, que somente seres iluminados conseguem fazê-la e entendê-la... Na verdade, segundo a etimologia, arte significa articular, construir. Isso justifica grandes equívocos existentes no pensamento do século XX que se estendem até os dias atuais.
Este problema tomou uma proporção inacreditável, a ponto de artistas com muitos anos de carreira e de brilhantes trabalhos não serem plenamente reconhecidos como tais, e, em contrapartida, outros que fazem trabalhos picaretas levam a fama de grandes gênios da Arte Contemporânea (melhor não citar nomes para eu não ficar ainda mais enrolado).
Creio que as motivações que moveram os artistas da primeira metade do século passado não são mais as mesmas de hoje e, sendo assim, devemos pensar em um novo rumo para a Arte. Ora, se tantos movimentos durante a história apareceram e se foram, porque o Modernismo não pode, de uma vez por todas, descansar em paz? Não se trata de renegar nada, a questão não é essa. Também não digo que devemos voltar ao clássico. Isso já foi feito no Renascimento. Um novo rumo, um novo caminho, em busca de novas inspirações e aspirações. A sociedade está saturada da concepção de que para ser boa a Arte tem de ser incompreendida. No entanto, algumas pessoas, mesmo que implicitamente, insistem em difundir essas idéias, defendendo com unhas e dentes o mesmo objetivo que, outrora, artistas pensaram para uma sociedade que não existe mais.
É lógico que eu não vim aqui para dar alguma solução. Se eu soubesse o que fazer, se soubesse que rumo seguir seria muito fácil. Mas creio que com a mente livre para pensar, para discutir novas visões e ambições, sem o mesmo pensamento de quem empata a mudança que é inevitável, uma hora a coisa vai fluir e a arte vai seguir adiante. Espero (pelo amor que tenho pelo que faço) que a Arte não acabe como o Capitalismo: um sistema fracassado, que todos sabem que não vai evoluir e que a tendência é só piorar, mas que, infelizmente, ninguém consegue se livrar dele. Ainda há tempo. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

No início, tudo eram traços...


Depois de passar boa parte do primeiro semestre desenhando natureza morta, panos, vasos, paisagens e, claro, nosso amigo Mocotó (ou o famoso modelo morto, já que se trata de um esqueleto), chegamos às aulas de modelo vivo.

Era sempre engraçado quando me perguntavam quais matérias eu fazia naquele semestre inicial de UnB. Os diálogos (e a cara de susto das pessoas) eram sempre os mesmos:
- ...ah, to fazendo também desenho 1.
- Nossa, que legal. E o que você desenha lá?
- Ah, no momento estamos desenhando modelo vivo.
- Uhm... E como é isso?
- Bom, a gente chega lá, vem alguém já contratado para posar, tira a roupa e a gente desenha.
- Como assim? Alguém fica pelado lá?
- É.
- No meio de todo mundo?
- É.
- Como assim?
- Como assim o que?
- A pessoa fica pelada no meio de todo mundo?
- É, ué.
- Ah, deixa de brincadeira. Mas o que você desenha lá mesmo, falando sério...

Era muito bom. O estudo de modelo vivo é um dos melhores para se aprender proporção, perspectiva, volume, luz e sombra etc. Resumindo, é essencial para qualquer um que queira aprender a desenhar.

Mas sem dúvida, o que mais aprendi naquele semestre foi ver as coisas de um modo diferente. É o famoso “olhar estrangeiro”, de Nelson Brissac Peixoto. Nós passamos todos os dias pelos mesmos lugares, mas se nos perguntam algo sobre o caminho que percorremos muitas vezes nós não sabemos responder. Isso porque nós olhamos as coisas, mas não as vemos. E desenho é isso, é observação, é aprender a ver.

Ora, então se nós vemos todos os dias milhares de pessoas, desde que nascemos, porque quando nos pedem para desenhar um ser humano nós simplesmente “travamos” e não conseguimos? Bom, daí é que vem a necessidade da prática. É preciso exercitar sempre, sem esquecer-se do olhar estrangeiro, o que quer dizer ver algo como se fosse a primeira vez, com curiosidade, com atenção.

Nesses trabalhos, o objetivo era juntar os modelos desenhados durante o semestre, tentando interagi-los de alguma forma, livremente, com a técnica que quisesse.

Eu não sei por qual motivo eu criei a idéia de que eu deveria assistir a todas as aulas de Desenho 1 para depois escolher como fazer os trabalhos. Às vezes os processos criativos acontecem de uma forma que a gente não sabe bem explicar o porquê. Resumindo, fiquei com um tempo muito curto para fazê-los...

Lembro que na véspera da apresentação dos trabalhos e comecei a desenhar os que faltavam por volta das 15 horas e fui sem parar até as 6 (da manhã!). Foi muito cansativo. Entrei num estado de êxtase que eu não vi a hora passar. Parava apenas quando o estômago já não aguentava mais e me lembrava há quanto tempo eu não comia nada... Quando acabei, fui direto tomar o café da manhã, guardar as coisas e ir para aula que era às 8 horas.

Mas valeu muito a pena. Mais do que uma nota, eu consegui adentrar em cada trabalho. A caneta pico de pena as vezes parecia uma extensão do meu corpo, e o mundo ao meu redor simplesmente não existia mais...

Cada trabalho foi feito com bico de pena em papel Canson tamanho A3.





terça-feira, 21 de abril de 2009

Sejam bem vindos!

Entrem, sentem-se, sintam-se à vontade. A casa é nossa.


Finalmente, depois de muito tempo, estou colocando no ar (ou na net, como preferirem) um espaço para discutir, admirar e refletir sobre o universo artístico de um ponto de vista mais específico: o meu. Não creio que seja nem melhor nem pior que qualquer outro. É apenas o meu modo de ver, pensar e sentir sobre essa coisa com milhares e, ao mesmo tempo, nenhuma definição chamada Arte.


Um artista é formado por diversos fatores e é influenciado pelo mundo que o cerca. Não é um ser alheio a realidade, vivendo na sua subjetividade sem contato com os outros. Mesmo os artistas que têm um trabalho tão pessoal, tão único, tão “seu”, foram influenciados, em algum momento da vida, pelos pais, professores, amigos, namoradas, filhos, etc. Isso sem falar nos traumas, medos e angústias, que, acredito eu, juntamente com a curiosidade sobre o desconhecido, é o que move o mundo.


Meu objetivo maior é divulgar meus trabalhos, ideias, pensamentos, reflexões... Tudo que cerca o artista, no âmbito social ou individual. Por isso, aqui encontrão, além da minha poética pessoal, trabalhos de alguns artistas famosos ou nem tão famosos assim, trabalhos coletivos com amigos, dicas de músicas e downloads de sets musicais (coisa que adoro fazer), comentários sobre filmes e séries que tenham também essa relação mais próxima com a arte, seja pelo tema ou pela fotografia.


Tudo pensado para criar um ambiente virtual interessante, agradável, diversificado e atrativo. Um lugar para todos que queiram ver sempre algo novo, sair da rotina – assim como eu tento sempre – vendo novas idéias, novos olhares, novas perspectivas.


Para começar, irei colocando, aos poucos, trabalhos que fiz há algum tempo, sempre descrevendo todo o processo, desde a ideia inicial, passando pelas dificuldades e mudanças ocorridas durante a criação, até o resultado final. Claro, sempre que possível, explicando o real significado que aquela obra quis transmitir, já que ninguém é obrigado a compreender a mente do artista. É óbvio que isso nem sempre é possível, pois, assim como na literatura – na poesia, para ser mais específico – um trabalho quando pronto pode ser passível de diversas interpretações e não apenas restrito ao que seu criador quis representar.


Mais para frente, pretendo transformar o blog em um diário gráfico virtual, colocando, além do que já foi dito, todo o processo de criação em tempo real, documentando cada estágio do de um trabalho. Creio que será uma experiência bastante válida, tanto para mim quanto para quem acompanhar o blog, pois será, para vocês, como estar presente em todos os momentos criativos, podendo opinar e sugerir mudanças, colocando uma visão diferente sobre determinado trabalho antes que o mesmo seja concluído, sendo, quem sabe, modificado graças a uma ideia nova não pensada antes por mim.


Por fim, sem me alongar demais, espero que este seja um espaço onde todos se sintam sempre bem à vontade para visitar, comentar, criticar, sugerir novas ideias... Em síntese, espero que voltem sempre.


Desde já obrigado pela visita e, mais uma vez, sejam todos muito bem vindos!